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Perfil pendular

Pomba do PSB adota voo tucano e bobo da corte vira jantar para a Leoa

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Maior economia da América Latina e maior colégio eleitoral do país, São Paulo normalmente é um capítulo à parte de qualquer livro que se escreva sobre a cidade ou o Estado. Berço do murismo, lançado nacionalmente pelo PSDB de Mário Covas pai, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, São Paulo já nos apresentou deputados de enorme lastro eleitoral, mas de pouco ou nenhum conteúdo político. Me limitando a este século, quem não se lembra de Enéas, Clodovil Hernandes e, mais recentemente, Tiririca? Cada um em seu tempo, os três estão na lista dos deputados mais votados do Brasil.

E daí? Morreram ou se escafederam do cenário público e não deixaram saudades. Pelo contrário. Para sorte deles e de outros também bem votados, com ou sem eles, pior do que está não fica. Dissidência do MDB de Paulo Brossard, Ulysses Guimarães, Pedro Simon, entre outras “feras”, o perfil pendular dos tucanos fez escola em São Paulo. Socialista sem a mesma convicção de seus antigos membros, entre eles João Mangabeira, Saturnino Braga, José Paulo Bisol e Roberto Amaral, o PSB de Carlos Roberto Siqueira decidiu subir no muro e dele só vai descer após o resultado do pleito paulistano.

A três dias do segundo turno na capital, atendendo pedido da candidata derrotada Tabata Amaral, a Executiva Nacional do partido, por unanimidade, fechou questão em relação a Guilherme Boulos (PSOL) e a Ricardo Nunes (MDB). Por ordem da diretoria cega, surda e muda do PSB, o comando municipal recomenda o voto em um, mas libera os filiados “para se posicionarem, se expressarem e votarem de acordo com suas consciências e compreensão política”. Ou seja, Boulos é o cara e Nunes, apesar das críticas, o cara da coroa.

É o exemplo típico de dar com uma mão, mas estender a outra para uma eventualidade qualquer. Na minha terra, esse tipo de posicionamento tem outro nome: dar mole para o provável vitorioso. Tudo a ver com a utópica tese de um anarquista mexicano, mas equivocadamente atribuída a Che Guevara: “Hay Gobierno? Soy contra!”. Tudo indica que, vencendo Boulos ou Nunes, a máxima certamente será diferente: “Hay una oportunidad? Voy estar allí!”. Aportuguesando, “tamo” na área e, caso sobre uma boquinha, “tamo” dentro. Faz parte do jogo político-partidário.

É o exemplo típico de dar com uma mão, mas estender a outra para uma eventualidade qualquer. Afinal, MDB e PSB pertencem ao Brasil que fecha com qualquer um que tenha “capacidade de equilíbrio e liderança”. Este é o argumento da sigla socialista para antecipar seu apoio à candidatura do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) à presidência do Senado. A eleição está marcada para fevereiro, mas, como seguro morreu de velho, primeiro meu pirão. Na política do Distrito Federal, o PSB saiu na frente e já anunciou a pré-candidatura de Ricardo Cappelli ao Palácio do Buriti nas eleições de 2026.

Chegado do ministro do STF Flávio Dino, de quem foi auxiliar direto no Ministério da Justiça, Cappelli sabe que será jogado aos leões, particularmente às leoas, normalmente muito mais ferozes. Eu não duvido da capacidade do ex-interventor federal na segurança do DF. Minha dúvida é sobre o potencial do partido que, em 2018, não conseguiu reeleger o então governador Rodrigo Rollemberg.

Mesmo com a máquina na mão, Rollemberg e o PSB perderam para Ibaneis Rocha, o atual chefe do Executivo local. Para piorar, Rollemberg não conseguiu sequer uma cadeira na Câmara, em 2022. Não podendo ficar a ver navios, foi socorrido pelo correligionário vice e ministro Geraldo Alckmin, com o cargo de secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços..

Mas, como também adoro subir e não descer do muro, pode ser que, no futuro, opte por uma inexequível frente de esquerda liderada pelo PSB. Mas pode ser que não. Talvez seja sim. Quem viver, saberá.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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