Os morcegos vampiros são as únicas criaturas conhecidas pela ciência que não têm nada além de sangue em seu cardápio diário. E essa dieta parece se adequar muito bem a eles devido a certos ajustes evolutivos. E parece que o menu vampírico funciona bem para eles por causa da perda de genes, com os animais ajustando seus genomas para transformar seus corpos em máquinas de processamento de sangue, de acordo com um novo estudo publicado na Science Advances.
A pesquisa, liderada pelo professor de genômica comparativa Michael Hiller, do LOEWE Center for Translational Biodiversity Genomics, em Frankfurt, na Alemanha, mostra que os morcegos hematófagos evoluíram de uma certa maneira para obter o melhor de seu estilo de vida sanguinolento.
Mesmo que esses animais consumam nada além de sangue, eles aprenderam a lidar com os níveis elevados de ferro e a ameaça de fome que sua dieta representa. A fim de aprofundar isso, a equipe científica comparou os genomas de morcegos vampiros e duas dúzias de outros morcegos.
Acontece que existem mais de 10 genes que não funcionam mais em morcegos vampiros, incluindo aqueles responsáveis pelo sentido do paladar, certos mecanismos de digestão e visão de cores.
“Achamos que a explicação mais simples para muitos deles é provavelmente o que as pessoas descrevem como ‘use ou perca'”, disse Hiller, citado pela Popular Science .
A explicação de por que alguns genes foram abandonados pode ser muito simples. Quando se trata de digestão do sangue, os morcegos vampiros dificilmente precisam de algum tipo de paladar avançado, então é por isso que os genes responsáveis por isso se tornaram desnecessários. O mesmo vale para o gene que permite o processamento de nutrientes como açúcares e gorduras.
Os genes envolvidos na visão de cores podem ter sido descartados devido aos hábitos de caça dos morcegos-vampiros: como eles preferem caçar no escuro da noite, muitas vezes até evitando o luar, esses genes não são mais úteis.
“Essas perdas de genes nos dizem muito sobre a seleção natural passada na linhagem de morcegos vampiros”, disse Gerald Carter, ecologista comportamental da Universidade Estadual de Ohio, à Popular Science . “Esses traços não são apenas sobre como eles digerem o sangue. Estende-se a como eles se comportam e até como pensam”.
Os morcegos vampiros têm “habilidades de locomoção terrestre bastante excepcionais, enquanto em outros morcegos é muito mais limitado”, de acordo com Hiller. Além disso, esses animais até se ajudam se alguns deles não se alimentarem adequadamente: outro morcego compartilhará uma refeição com outro se isso acontecer (dado que o outro morcego também ajudou de alguma forma no passado).
De fato, esses morcegos possuem imensas habilidades sociais: parecem até desenvolver “amizades”. Um estudo realizado em 2019 descobriu que, quando alguém está faminto de sangue por uma noite, seus “amigos” regurgitam o jantar da noite passada como uma “doação de comida” e cuidam confortavelmente um do outro. No entanto, esse comportamento foi encontrado apenas para morcegos fêmeas, já que os morcegos machos geralmente estão ocupados lutando entre si por território para desenvolver “amizades”.