Rosana Hermann
Marcela Zaidan mandou um email pra mim outro dia e fez exatamente essa pergunta. Por que não respondemos a comentários positivos ou elogiosos e sempre rebatemos qualquer crítica ou ofensa? Por que vloggers que falam com raiva, criticam todo mundo, sempre conquistam espaço, sucesso e dinheiro com os haters que os promovem? Por que tudo o que é ruim tem sempre mais destaque? O ‘mal’, enfim, triunfa sobre o chamado ‘bem’?
Prometi para Marcela que usaria esta coluna para responder. Ou, pelo menos, que iria tentar.
Eu vejo o amor como um gás, um plasma, que se espalha pelo ar. Sabe quando você passa perto de uma confeitaria e sente um aroma doce ou entra numa padaria e sente o cheiro gostoso de pão quente assando no forno? O amor é mais ou menos assim, indefinido e esparramado. Um calorzinho bom, um vento que bate, um céu lindo, águas calmas, coisas que fazem a gente sorrir de olhos fechados. O amor é um campo.
O mal, não.
O mal dá um pico. Zás! Faca que rasga, choque que baqueia. Um susto que aterroriza. Um grito. O mal é um pulso, um pico violento, uma descarga, avalanche.
E, talvez por isso, nossas reações sejam tão diferentes nos dois casos. O amor nos enleva, enlaça, abraça. E queremos só curtir aquela coisa boa, como o barulhinho da chuva na hora de adormecer. Mas quando alguém vem com raiva e nos machuca, aí é pa-pum, zás-trás, toma-lá-dá-cá. É reação imediata, bateu-levou. É a intensidade quase infinita do amor só que com carga negativa e em um segundo. Um raio que cai na cabeça.
Essa intensidade imensa, num átimo, nos desestrutura. Perdemos a lógica, a noção, somos só reação. O animal feroz em nós acorda, revive e queremos revidar. No ato.
O elogio, não. É carinho que entra quietinho e já vai pra uma caixinha cheia de oooowwwwnnns no nosso coração. Não abala, não nos mobilizar com a fúria que o hater sabe causar.
E assim, acabamos por dar atenção e promover os haters, as más notícias, os idiotas, ao mesmo tempo que mandamos pessoas talentosas, gentis, humanas para cantinhos sem visibilidade.
Fazemos isso com tudo. Damos mais cartaz pra quem grita, enfia a cara na lente, por vezes até nos assustando. Seguimos pessoas nervosas, irritadas, briguentas, porque temos até medo de contrariá-las. Sim, temos ídolos pacíficos e gentis, mas não é o mainstream do sucesso na Internet, não. No geral, é mais fácil conseguir views fazendo um vídeo agressivo do que fofinho.
E assim, vamos construindo uma sociedade que acha que o bom pai é o que pune, bom professor é o que dá zero, bom profissional é o que grita. Somos tão carentes e frágeis que aceitamos a ira apenas porque ela é ‘energética’.
Pois estamos totalmente enganados. A longo prazo essas pessoas nos fazem mal, nos contaminam. E quando percebemos isso, saimos correndo em busca das pessoas que realmente nos trazem um pouco de amor.
Os haters sempre vão fazer barulho num primeiro momento, ganhar visibilidade. Mas pouco tempo depois, caimos na real e vemos que esses odiadores são seres patéticos que já desistiram da felicidade e, em tendo ainda muito tempo de vida, resolvem dedicar esse tempo a impedir que os outros sejam felizes.
Marcela tem razão em reclamar quando diz que as pessoas não respondem a seus elogios, talvez porque o elogio a gente já espere então, é meio como a gente faz quando separa feijões mandando pro pote dos feijões inteiros. É o feijão quebrado, a pedrinha, a sujeira, que nos salta aos olhos. Assim que pousamos olhos no feijão com caruncho, pegamos o dito e o jogamos fora. Infelizmente, com a ofensa não fazemos o mesmo. Reparamos e, em vez de jogá-lo no baldinho de lixo, damos um lugar de destaque pra ele e ainda tentamos contra-argumentar.
No fundo, todos nós queremos ser unanimemente aceitos, mundialmente conhecidos, universalmente amados. E, por essa fragilidade caímos na isca do hater. Porque talvez, no fundo, queremos tanta atenção quanto ele. Pode estar ai a resposta para nos livrarmos dele. Não querer agradar todo mundo, não mirar o sucesso total, diminuir a importância que damos pra nós mesmos e, consequente, para quem quer nos abalar.
Estou tentando fazer isso. O primeiro passo foi responder aqui para Marcela que escreveu um email com cheiro de pão quente, bolo no forno, carregado de afeto e que me mobilizou muito mais do que qualquer hater banana que a gente encontra por ai.
Marcela, por enquanto, o amor venceu. Obrigada, querida.