Com a presença marcante e crescente da inovação nos serviços e produtos, o empreendedorismo vem ganhando cada vez mais força e espaço no contexto brasileiro. Nesse sentido, as MPEs (Micro e Pequenas Empresas) apresentam atuação singular, representando cerca de um quarto do PIB brasileiro.
Complementarmente ao seu papel fundamental na economia do país, essas empresas representam cerca de 44% dos empregos formais no setor de serviços e aproximadamente 70% dos empregos gerados no setor de comércio (dados do Sebrae), demonstrando, assim, um grande potencial para colaborar com uma das questões mais emblemáticas no contexto da inclusão da pessoa com deficiência: o trabalho.
No Brasil, onde cerca de 24% da população apresenta alguma deficiência, as políticas públicas de inclusão laboral resumem-se a três focos: Lei de Cotas, direcionada apenas às empresas com cem ou mais funcionários; reserva legal de vagas em concursos públicos (só 5%) e investimentos em cursos técnicos e de capacitação, que vem sendo ampliados para atender à grande demanda existente e diminuir as barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais no ensino.
Mesmo assim, em uma análise criteriosa, percebe-se que as políticas públicas existentes, infelizmente, não contemplam todo o espectro de possibilidades que existem para o mercado de trabalho.
É fundamental que possamos adotar medidas para ampliar o leque de opções na busca por índices melhores de trabalho e renda, tendo em vista que as pessoas com deficiência representam apenas 0,73% do total de vínculos empregatícios formais no país.
Nesse contexto, com a importância notória das MPEs no cenário nacional, percebe-se que o estímulo à contratação de pessoas com deficiência por esse setor representa, estatisticamente, um importante mecanismo para ampliar expressivamente os resultados já alcançados pelas políticas públicas existentes.
O próprio incentivo ao empreendedorismo, como opção profissional para a pessoa com deficiência, vem se mostrando uma ferramenta eficiente para garantir renda, aumentar o acesso ao mercado de trabalho e, principalmente, auxiliar para que antigos paradigmas da inclusão laboral sejam derrubados.
Esse tema ainda é pouco debatido, em grande medida devido às dificuldades encontradas por essa parcela da população para conquistar seu espaço, o que as impede de vislumbrar essa possibilidade para suas vidas profissionais.
Esse caminho tem a capacidade de aliar propostas inovadoras e superação, bem como benefícios psicológicos importantes, pois a empresa torna-se uma extensão de seu criador.
No livro “Empreendedorismo sem Fronteiras – Um Excelente Caminho para Pessoas com Deficiência”, resultado de minha parceria com o escritor Fernando Dolabela (autoridade no tema), as principais questões e reflexões sobre deficiência e empreendedorismo são levantadas, buscando ressaltar o paralelo positivo e com grande potencial socioeconômico existente entre esses dois mundos.
A presença de depoimentos de empreendedores com deficiência, relatando dificuldades e, principalmente, oportunidades encontradas, traz uma visão factível do tema.
Trata-se, portanto, de demonstrar a importância do poder da inovação, da ideia e do “empreender” na busca pela garantia de autonomia e direito de escolha para essas pessoas, que podem trazer, consequentemente, benefícios para toda a sociedade, permitindo que as pessoas com deficiência assumam seu protagonismo como cidadãos e passem a contribuir de forma plena para o desenvolvimento de suas vidas, de suas famílias e do país.
Dessa forma, desenvolver políticas públicas efetivas e mecanismos que possam incentivar profissionais com deficiência a se tornarem empreendedores, além de ampliar de forma direta e indireta a inclusão laboral, também gera impactos sociais e econômicos expressivos, os quais são fundamentais na busca por uma sociedade realmente sustentável.
Se entendermos que viver é empreender e que as pessoas se definem pelo que fazem, teremos a dimensão de importância do trabalho como um direito de todos.
Cid Torquato