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Portugueses redescobrem o Brasil da triste Bundesfora

Meio milênio e quase duas décadas e meia após Pedro Álvares Cabral e sua trupe de navegadores informarem ao rei Dom Manuel I o descobrimento de novas terras, o Brasil voltou a ser descoberto pelos portugueses. Escrivão da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha foi o autor das primeiras impressões sobre a gleba que posteriormente viria a ser chamada de Brasil. Não sei quem escreveu a nova (ou as novas) cartas informando que a pátria de chuteiras é uma universidade farta, rica e hospitaleira para técnicos dispostos a aparecer por aqui antes de rumar para os euros da Europa ou para os petrodólares dos países árabes.

Pouco importa. Importante é que eles inverteram a ordem e se deram bem. Já tivemos por lá Oto Glória e Luiz Felipe Scolari. Hoje chegamos a ter na Série A do Brasileirão pelo menos sete técnicos portugueses. A diferença dos portugas de hoje para os de 1500 é que, além do Brasil, eles também descobriram a América. Não a América de Américo Vespúcio, muito menos a de Cristóvão Colombo, mas a do Sul. E de ponta a ponta. Os seis últimos títulos da Copa Libertadores foram ganhos por clubes brasileiros. Quatro deles tiveram o jargão e a vara de técnicos portugueses.

O Mister Jorge Jesus ganhou com o Flamengo em 2019. Abel Ferreira venceu com o Palmeiras em 2020 e em 2021. No fim de semana retrasado foi a vez de Artur Jorge com o Botafogo. Não é nada, são os técnicos nativos na prateleira final do freezer. Além dos campeões, também tivemos dando pitacos nos times brasileiros os lusitanos Pepa (Cruzeiro e Sport Recife), Paulo Gomes (Botafogo-SP) e Pedro Caixinha (Bragantino). Antes deles, só os Pedros, o primeiro e o segundo, até hoje são lembrados carinhosamente pelas torcidas novas, velhas e idosas dos clubes da Primeira, Segunda, Terceira e Décima-Quinta divisão.

A invasão de técnicos de além-mar é um fato inédito, mas não absurdo. Absurdo é o naufrágio da Seleção Brasileira. Saudades do tempo em que o Paraguai só ganhava do Brasil no contrabando. Melhor esquecer a recente derrota nas Eliminatórias para a Copa de 2026. As aves não gorjeiam mais por cá. Nossas várzeas não têm mais craques. Minha terra hoje só Palmeiras e o canto do Urubu. E nosso céu? Nada mais do que uma Estrela Solitária e o Galo carijó fazendo pouso forçado na Arena do Jacaré. Graças a uma migração latino-europeia em massa, reconquistamos o domínio clubístico da América.

Fora disso, somos apenas uma obra de arte admirada ou criticada por boa parte do mundo, mas ainda com detalhes capazes de fazer a diferença nos campos da Europa, da Ásia, da África e da Oceania. Pepe Guardiola aprendeu o que sabe conosco. Infelizmente, os tempos mudaram. Nossos maiores ídolos comentam futebol na televisão ou estão de pijamas torcendo pelos clubes da Premier League, da Bundesliga ou do campeonato dos venezuelanos, atualmente os grandes fornecedores do ex-exportador futebol brasileiro. Nos resta a triste Bundesfora. Desaprendemos? Parece que sim! Que venham mais gajos portugueses a descobrir o Brasil.

Com raras exceções, os brazucas trocaram o romantismo do futebol pela formosura e pelas pernas longilíneas das misses e modelos europeias e, às vezes, pelas peladas brasileiras. Azar dos torcedores. Importante é que as contas dos meninos estão recheadas de euros e de dólares. Saudades dos tempos em que os verdadeiros craques vestiam somente duas camisas: a do clube e a da Seleção. Nada contra a globalização do esporte. Uma pena é lembrar que, ainda na época do Escudo (antiga moeda portuguesa), os clubes lusitanos faziam fila para acompanhar e descobrir os talentos nacionais. Em 2024, o escudo brasileiro do tipo gênio é uma vaga lembrança. Está de fora. Vamos torcer para que em 2025 se mantenham íntegros pelo menos o escudo dos brancos, o escudo dos pardos, o escudo dos morenos e o escudo dos índios.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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