À beira do abismo econômico, mas ainda à espera de um milagre capaz de tirá-lo do buraco negro, o Brasil de 213 milhões de brasileiros com sonhos distintos está bem perto do mesmo pesadelo. De um lado, os que apostam em Papai Noel torcem por dias menos cinzentos e noites mais frescas em volta do Palácio do Planalto. De outro, os que acreditam piamente na existência de duendes juram que Papai Donald Trump descerá do trio elétrico em Brasília, Vai sacudir, Vai abalar, agitar a Pipa do Vovô e, antes de desmanchar a Cabeleira do Zezé, expulsará o sapo barbudo do brejo chamado Presidência da República.
A semelhança entre eles é a imaginação, isto é, ambos creem no que não existe. A diferença é que uns sonham com os pés no chão, enquanto os outros viajam na maionese, mesmo estando denunciados, sem os pés, com as mãos atadas e com meio corpo na reclusão. Resumindo, mesmo dizendo que Daqui Não Saio, Daqui Ninguém, Me Tira, A Canoa Virou. Embora sonhar e fantasiar sejam sinônimos de utopia, não pagam imposto e nem cansam, às vezes é importante parar de sonhar, acordar e tentar a Dança do Funiculí. De que adianta dormir mais cedo para sonhar girando em torno de si mesmo e se imaginando o dono de um mundo só seu? Triste é acordar e perceber que nada mudou e que o mundo é de todos, inclusive daqueles que lhe venceram. Adeus, Adeus.
Como o Barbeiro de Sevilha, há os que procuram na vida algum motivo para sonhar um sonho azul, azul da cor do mar. Esses nem dormem, pois sabem que, antes de sonhar, é preciso saber. E apesar do tempo que aí estão e da Maria Candelária como companhia, não conseguem mais realizar o que prometeram. Fizeram o mundo girar por três encarnações, mas se perderam na mesmice e não conseguem mais sonhar com o mundo real. Perderam A Jardineira. O resultado é que estamos todos no meio de um redemoinho próximo de se transformar em um tsunami daqueles que varrem os sonhos dos canhotos e dos destros para as mãos dos ambidestros.
Metáforas à parte, o fato é que o pesadelo citado acima era somente o descanso do desespero. O General da Banda caiu na Batucada e voltamos à estaca zero. Tardiamente, os defensores dos mitos descobriram que não basta sonhar e falar. Tudo que tentaram não passou de um Carnaval de Ilusões. É preciso realizar, agir, querer e, principalmente, merecer. Pelo andar da carruagem dos homens de toga, o merecimento será um sonho irrealizável. Na melhor das hipóteses, só a Camisa Listrada ou, quem sabe, quando 2030 chegar. Na pior, nunca mais. Como sonhar é esquecer e esquecer não pesa, esqueçam que Papai Trump e seu discípulo podem tudo. Este é um sonho impossível. É A Voz do Povo.
E o que dizer daqueles que se mantêm na corda bamba da impopularidade e no fio da navalha da falta da incredulidade de seus apoiadores? Nada além da necessidade de um choque de gestão para tentar recuperar a credibilidade da primeira vida: Acorda, Maria Bonita. Calar a Colombina, falar menos e trabalhar mais pode ser o primeiro passo. O segundo é governar com executivos de colorações variadas e parar de insistir com simpatizantes da mesma tonalidade. Por fim, burocracia e reuniões para discutir o sexo dos anjos é o mesmo que viver de sonhos. O Brasil é real e, portanto, precisa de estímulos, de força de vontade e, sobretudo, de conquistas. Está provado que sonhos determinam o que a gente quer.
O que a gente consegue é só mediante ação. Sábio são os homens de ação, aqueles que não sassaricam. Eles são o oposto de um sonhador ou utópico. Permanecer como estamos é lembrar da afirmação poética de que a utopia e ignorância competirão em uma corrida até o momento final. O problema é que, no fim, talvez o povo cansado da teimosia de um e da soberba de outro decida sonhar diferente. Por enquanto, sonhar com rei dá leão, com anjo é borboleta, com sapo é jacaré e como mito é pavão. No próximo sorteio popular, marcado para 2026, ou mudamos o que está escrito ou as cobras vão para a cabeça. Por enquanto, aproveitemos o sol do Saara e folia pra que te quero. Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô ô. Até Quarta-feira
………………………………..
Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras