A silenciosa, porém, devastadora mensagem da natureza às autoridades e ao povo do Rio Grande do Sul deveria servir de exemplo para todos aqueles que fazem do meio ambiente a latrina do mundo. É o cidadão que esquece que a natureza é vida e que só é comandada se é obedecida. E não adianta fantasias de “patriotas”, mitos ou generais. Além de carapuça para todos, a advertência é a prova de que o mundo, particularmente o Brasil, carece de pessoas de primeira, que falem de amor e que tenham atitudes. Mais do que isso, necessita urgentemente de seres que cuidem melhor do que sai da boca. Por enquanto, de cá ou de lá, o que dizem e fazem é de tirar do sério um monge de pedra.
Poderia parar por aqui, pois, suponho, para bom entendedor, meia palavra basta. Parafraseando Stanislaw Ponte Preta, vou mais além: “Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele”. Infelizmente, é o país que nem Freud explica. Talvez a fraude. Não basta ser solidário somente no câncer. O sentimento ou ato de compreensão com o próximo é uma obrigação da vida. Ela soa mal, rende poucos votos, mas não pode ser ocasional e fugaz. Como não é produto perecível, a solidariedade, a exemplo da vida, tem de ser tentada e testada diariamente.
Como diria o poeta contemporâneo, viver é o ato de amar e ser feliz. Em um mundo em que diariamente somos massacrados por movimentos de faz de conta, a vida é um eco. Se você não está gostando do que está recebendo, observe o que está emitindo. Está escrito em qualquer livro de autoajuda que a vida se encolhe ou se expande na mesma proporção de nossa coragem. A olho nu, o Planeta Terra está “derretendo”, esgotando sua capacidade de regeneração, o que, a médio e longo prazos, colocará em risco latente a magia e o poder de prover as necessidades da humanidade.
Partindo do pressuposto de que a vida também deve ser entendida como uma festa, ou pensamos efetivamente na diversão ou nossos netos e os filhos deles serão obrigados a desistir de viver. Traumático? Talvez, mas é a realidade. Sem idealismo, ideologia ou simpatia partidária, temos de pensar rápido em soluções simples e eficazes em defesa da vida como bem maior, em defesa da dignidade das pessoas, da proteção dos ecossistemas e, naturalmente, da Mãe Terra, aquela que é a nossa potencial geradora. Poetizando um pouco mais, podemos dizer que a vida é cheia de decisões difíceis.
Os vencedores são aqueles capazes de tomá-las a tempo. Não esperemos promessas ou garantias, mas sim possibilidades e oportunidades. Não à toa, o direito à vida é o mais primordial dos direitos humanos. Por isso, ele constitui cláusula pétrea. De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, o direito à vida começa com a fecundação e termina quando o corpo naturalmente para de emitir sinais vitais. Se cada um de nós tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no Planeta e ninguém morreria de fome. A responsabilidade social e o resguardo ambiental significam um compromisso com a vida. Ter consciência ambiental é, ao mesmo tempo, compreender que fazemos parte de todo o meio e perceber que as agressões à natureza refletem em nossas próprias vidas.
Não quero, e não devo ser o arauto do apocalipse, mas é fundamental alertar para o caminho sem volta em que o homem se embrenhou. Não podemos esperar por milagres. Ou contribuímos agora ou enfrentaremos um cenário global inimaginável. Ou mudamos rapidamente o modus vivendi ou também rapidamente colocaremos em risco a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde humana e animal, além da própria vida. É o caso, portanto, de nos perguntarmos: Valeu a pena termos vivido? A reflexão final é simples: a vida é como um livro. Às vezes, precisamos encerrar um capítulo e começar o seguinte. A Terra é a única coisa que todo ser humano tem em comum. A política, os políticos, os mitos e os ladrões passam. Passam, mas antes se unem aos fingidos, hipócritas e dissimulados para acabar com o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e, se possível, com o Brasil.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978