Da janela, assistia à manifestação popular que descia a rua. Observava seus comportamentos ruidosos, entusiásticos e contagiantes. Apreciava cada pessoa que passava.
Uns empunhavam faixas, outras bandeiras, e ainda quem nada levava simplesmente acompanhava gestos e gritava slogans. Contudo, o que mais chamou a atenção foi um grupo que somente queria se divertir.
Como saber disso? Pela maneira como chegaram. Do nada, viram o movimento e, como se diz na gíria brasileira: resolveram tirar um “sarro”. Desfilavam sem compromisso. Todavia, engrossavam o número de participantes e brincavam como crianças travessas: ora incentivando, ora debochando da marcha que adentraram como penetras.
Não acreditavam na causa. Sequer sabiam o que estava acontecendo. Mas seguiam firmes entre tantos comprometidos com os dizeres estampados em camisetas e carros de som.
Uma palavra era chave. LIBERDADE!
O vozerio clamava por liberdade.
Pensar nos tipos de liberdade que poderia encontrar naquele formigueiro humano.
A primeira identidade foi com os dirigentes da marcha ao ocuparem o carro de som. Pediam liberdade. Mas não completavam o sentido da palavra. Somente gritavam “Queremos liberdade”.
Bem. A segunda observação foi como expressavam o desejo pela Liberdade. Mulheres semidespidas exigiam Liberdade. Homens ou pelo menos aparente na sua forma física genética também aspiravam liberdade. Os bagunceiros divertidos sem comprometimento berravam por liberdade. Enfim, cada um e todos eram uníssonos ao bradar por LIBERDADE.
Da janela, via a Liberdade passar. Porém, não conseguia saber exatamente que liberdade era essa. Difícil entender tanta diversidade, tantos diferentes gritarem por uma única palavra. Pensava, da janela também queria liberdade. Mas a minha séria difere das deles?
Qual o tamanho da liberdade? Qual o conceito da Liberdade bradada? Tão fácil gritar por Liberdade.
*1º lugar no IX Prêmio Campos de Jordão de Literatura-Troféu Pedro Paulo Filho – 2022