Um protesto contra o genocídio de negros no Brasil reuniu nesta sexta 22, no centro da capital federal, cerca de 400 pessoas, conforme cálculo da Polícia Militar do Distrito Federal.
Foi a primeira vez que o Distrito Federal participou da Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro, que está na segunda edição. A marcha reuniu representantes de movimentos sociais e grupos religiosos, artistas, pessoas que sentem o racismo na pele e simpatizantes da causa.
Com cartazes e cruzes brancas nas mãos, o grupo percorreu as ruas que cortam a rodoviária de Brasília, um dos lugares mais movimentados da cidade, de onde saem ônibus para as demais regiões administrativas do DF e cidades do entorno.
“O objetivo da marcha é dar visibilidade à questão. Quem está marchando aqui são as pessoas da periferia, dos assentamentos. Queremos dar vez para aqueles que estão à margem, que não falam”, disse uma das organizadoras da marcha, Layla Marisandra, do Fórum da Juventude Negra. “No DF, não é diferente dos outros estados. Aqui temos um cordão invisível que divide as asas [Sul e Norte] do entorno e das [cidades] satélites. Tem uma população que só vem ao centro para trabalhar.”
A marcha é realizada simultaneamente em 18 estados brasileiros e em 15 países, informou a coordenação da campanha “Reaja ou será morto (a)”, que convocou o ato. Juntos, os movimentos querem dar visibilidade às situações de violência e fortalecer a luta por políticas públicas que garantam direitos, como acesso à educação e à saúde.
Segundo o Mapa da Violência 2014, a vitimização de negros é bem maior que a de brancos. Morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil em 2012, em situações como homicídios, acidentes de trânsito ou suicídio. Entre 2002 e 2012, a vitimização mais que duplicou, diz o estudo.
Na marcha, as histórias de violência e preconceito eram muitas. A técnica de enfermagem Lourdes Pereira, de 49 anos, teve o sobrinho Flávio Rogério, de 20 anos, assassinado pela polícia, em Teresina. “Meu sobrinho morreu por um pré-julgamento da polícia. Esse julgamento é um racismo disfarçado”, afirmou.
Ela é moradora da Cidade Ocidental, município goiano no entorno de Brasília. Negra, Lourdes disse que “sente na pele a diferença. Quando vamos procurar emprego, por exemplo, e não somos escolhidas e a diferença não está no currículo.”
O rapper Divino Monteiro, o Dino Black, traduz o sentimento em versos. “Meus irmãos só marcam presença lá se for para lavar banheiros ou lavar o chão. Me dói em pensar em tanta exploração. Tem preto otário achando que acabou a escravidão. Pode crer que não”, diz na música Onde Estamos.
“Quando o negro entra, é o primeiro suspeito. Isso acontece comigo: basta eu entrar em um ônibus que todos me olham, basta entrar em uma loja que acham que eu vou roubar alguma coisa”, diz o rapper, que é morador da Candangolândia, região administrativa do Distrito Federal.
Mariana Tokarnia, ABr