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Povo reclama do preço das flores. “Estão caras como a hora da morte”

Os brasilienses que foram ao cemitério reverenciar seus entes queridos neste domingo (2), Dia de Finados, e escolheram as flores para homenageá-los, encontraram uma variedade de opções e também de preços. Muitos reclamaram dos valores, mas a avaliação dos vendedores é que o preço teve que diminuir um pouco devido à alta concorrência e à resistência dos clientes em levar o principal produto comercializado nesta data.

Simone Nazaré, de 29 anos, foi com a família visitar o túmulo do irmão e da avó de seu marido, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul de Brasília. Ela disse que no ano passado pagava menos para vasos maiores de flores. “Tudo está aumentando, né? Então está difícil da gente reclamar. É igual a vela, ano passado a gente comprou mais velas, foi mais barato. E esse ano, por acaso, a gente achou ali três [pacotes por R$ 5], mas a maioria é dois por R$ 5”.

“Já deixei para comprar aqui porque achei que estava mais barato. Mas está mais caro: um pacotinho de nada, R$ 5, R$ 6. Alguns que a gente encontrou muito pequenininhos, R$ 4”, reclama Joina Carvalho, 59 anos, que visitou o túmulo da filha. A dica de dona Maria Mendonça, 75 anos, que frequenta o da Campo da Esperança, é comprar em hipermercados. “Já trago de lá. Eu já comprei algumas vezes aqui, é bem mais caro. Aí deixei [de comprar aqui], compro de lá”, diz, indicando uma sacola com três vasos pequenos de crisântemo, comprados cada um a R$ 2,40, contra R$ 5 no cemitério.

“Não tem como deixar de comprar. Eu achei caro, mas tem que comprar né?”, disse o fiscal homologador Tenêncio Alves da Silva, 51 anos, que foi ao cemitério com a mulher. Ele levou duas flores de plástico, adquiridas a R$ 10 cada. A aposentada Maria do Socorro, 68 anos, conseguiu pagar o mesmo preço do ano de 2013, mas encontrou algumas bancas onde o preço está maior.

Com as críticas e resistência dos consumidores, a solução de alguns vendedores foi manter o preço de anos anteriores ou até reduzi-lo. Risonete Rodrigues vende flores no cemitério há mais de quinze anos e credita o movimento menor deste ano ao fato de o feriado ter caído no domingo. Com isso, diz ela, muitas pessoas escolheram vir na sexta e no sábado. “Cada ano que passa, os fornecedores aumentam muito mais, principalmente nesta época. A gente já compra [diariamente] pra vender nesse valor. Só que aí a gente não pode aumentar, porque tem muita gente que estão vendendo mais barato”, disse, anunciando que recorre a opções de flores de plástico, mais resistentes.

O dono da floricultura que funciona dentro do cemitério, Demian Machado, confirma que a solução tem sido conceder algumas promoções. “Apesar de ter aumentado preço da compra, na hora de vender a gente está diminuindo. Tem que vender, o pessoal não está comprando realmente, então por isso que o preço abaixou”, disse. Segundo ele, o preço para revenda do vaso grande de crisântemo estava em R$ 6,50 no ano passado e agora está em R$ 8.

Com a ponderação dos comerciantes, alguns clientes não se queixaram dos valores. Para Iraci Rodrigues, o preço está acessível, “deu pra comprar sem nenhum problema”. Ela não costuma frequentar o cemitério todos os anos, por isso não pôde fazer uma comparação. “É uma simbologia, uma homenagem à pessoa que viveu muito tempo com a gente. A gente já sabe que a pessoa não está ali mais, somente os ossos, que vão virar pó. Então é mais pela questão da simbologia, de amar aquela pessoa”, diz

Já Cristiane Barbosa Guimarães, 25, optou pelo diferencial para enfrentar a concorrência. Ela confecciona flores artificiais, e embora tenha reduzido o preço que cobra diariamente, está satisfeita com o resultado das vendas. Ela levou cerca de 70 flores e em menos de três horas já havia vendido mais de 50. “Trabalho com esse material, o EVA, aquele emborrachado que usa na escola para fazer bonequinhos para as crianças, e vou usando a criatividade para fazer”, explicou. A arte de Cristiane envolve vários tipos de flores, como papoula, rosa, ibisco, copo-de-leite, além de jarros.

Ela trabalha há dois anos e meio fazendo artesanato e o vendendo, junto com o esposo, que fabrica brinquedos para crianças. O preço, R$ 5 cada, hoje está pela metade: R$ 3 a unidade, mas sai a R$ 5 se o cliente levar duas. Esta é a primeira vez que ela escolhe a data de Finados e o cemitério como ponto de venda. “Tenho mais vendas é quando eu trabalho no dia dos namorados, das mães, e em bares”, diz, segundos antes de escutar uma mulher perguntar o preço, elogiar o trabalho e lamentar: “Por que você não estava aqui mais cedo? Comprei uma feia”.

De acordo com o major Augusto, o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, cerca de 200 mil pessoas devem passar pelo principal cemitério da capital federal. “O movimento está intenso desde as 7h, diminuiu na hora do almoço. A gente acredita que mais de 100 mil já visitaram”, disse.

Paulo Victor Chagas, ABr
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