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Povo terá pedras pela frente na tentativa de ver o Brasil melhor

Estamos a uma gestação de outubro, data da principal eleição desde a efetiva redemocratização do país, em 1989, quando tivemos o primeiro pleito direto após o fantasma da ditadura. Mais importante até do que a de 2002, que elegeu um trabalhador presidente da República. Fugindo do mérito e da avaliação de boa ou ruim, a chegada do operariado ao topo do poder incomodou o capital e a burguesia, também representada pelo conservadorismo das elites militar, política e de setores liberais. Tudo poderia ter sido administrado não fossem a ganância, o prematuro anúncio da perpetuação de ideias, a aproximação com líderes tupiniquins de baixa envergadura mundial e com pensamentos retrógrados e, sobretudo, a luta pela primazia ideológica com os opostos.

Transformada em batalha, a briga de propostas filosóficas acabou na falta de princípios. O que começou como simples posicionamento político-doutrinário, dividiu a sociedade e virou guerra entre dois lados bem distintos: um que quer impor valores pela força e outro que, depois do mea culpa, propõe recuperar o tempo, o prestígio e o poderio partidário perdidos. Entre o mar e a montanha, o marisco (o povo) tenta se segurar como pode. Parte prefere apostar no quanto pior melhor. Por isso, assimilou baboseiras, fanatizou argumentos, envelopou um candidato e moverá mundos e fundos para manter o reacionarismo como forma de poder. Na verdade, torcem pela grosseria e pelo golpismo para silenciar a massa.

Confiante na recuperação do status quo e na volta do país à serenidade social, uma minoria da parte restante – a massa – sofre por ter acreditado em fábulas mitológicas, mas está pronta para se redimir. A maioria sonha dia e noite com a possibilidade de corrigir eventuais (nem tão eventuais assim) erros de um passado bem recente. No português escorreito, não há que se pregar inocência, tampouco fugir de ataques teoricamente baseados em fatos concretos. É preciso que o segmento político com chances reais de novamente ocupar o trono presidencial encare de frente os anunciados erros. Não adianta tentar esconder o sol com peneiras. O mais relevante é que, oportunamente, se penitencie com determinação e coragem.

Quem nunca errou que atire a primeira pedra. É importante resolver falhas nesse momento de consolidação nas pesquisas de intenção de votos. No entanto, é fundamental mostrar publicamente o desejo de acertar, acertar e acertar futuramente. Não devemos esquecer jamais da parábola da mulher de César, aquela à qual não bastava ser honesta. Tinha de parecer honesta. Portanto, no momento em que as urnas eletrônicas começam a ser lustradas nada mais justo do que começar a tapar os buracos da peneira. Vale ressaltar que, caso não sejam tapados hoje, terão de sê-lo amanhã, sob pena de continuarem existindo. A consequência é o prolongamento da dúvida e do sofrimento de quem ainda não se posicionou.

Como escreveu Gonzaguinha, “Viver…E não ter vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…” Outro pensamento interessante para definir a atual quadra tem a assinatura de Buda: “Não fique no passado, não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente. Milhares de velas podem ser acesas com uma única vela”. É clara a desnecessidade de justificativas para rotular o Brasil de hoje como o pior dos últimos 33 anos. Não há hipótese de ficar pior caso o povo consiga promover as mudanças que se fazem necessárias. Mudar e corrigir o que é possível ou deixar fluir sem reagir. Eis a questão! Não adianta só gritar e espernear contra a tempestade.

A chuva continuará caindo se nada fizermos. Comecemos a procurar saídas. Qual? Não existe fórmula mágica, mas é necessário buscar um atalho para evitar, por exemplo, a devastação de nossas florestas. O mercado nos ensina que só se combate ervas daninhas com a eficácia de poderosos inseticidas. Pensemos nisso quando, em outubro deste ano, buscarmos o caminho das urnas. Será nossa contribuição para a correção dos tais eventuais erros. Até lá, boa sorte e não morra sem vacina. Se preferir a estrada do negacionismo, boa viagem.

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