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Ficando raízes

PP monta armadilha para criar poder paralelo no governo Lula

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Autor/Imagem:
Arimathéa Martins - Foto de Arquivo/Fábio Rodrigues Pozzebom - ABr

A nova configuração do governo, aprovada a partir da análise da medida provisória da reestruturação dos ministérios do governo Lula, não é o fim do mundo. É verdade que o Ministério do Meio Ambiente foi “esvaziado”. Também é verdade que as pastas de Povos Originários e a do Desenvolvimento Agrário perderam parte do poder de barganha. No entanto, o dano maior foi para o próprio governo. Tudo isso indica que a disposição do Centrão, comandado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e pelo escondido senador Ciro Nogueira (PP-PI), é levar a gestão de Luiz Inácio às cordas.

A clara intenção do comando centrista é encurralar o governo e obrigar Lula a dividir o bastão do país, criando um poder paralelo sob a tutela dos dois caciques. Comp a política é a arte do possível, tudo pode ser possível no atual cenário nacional, inclusive a indicação futura de Ciro Nogueira para funcionar como uma espécie de primeiro-ministro. Pode parecer um absurdo, mas ilação alguma deve ser afastada da realidade quando nela se inclui Arthur Lira, o PP e as demais legendas do Centrão. Nesse sentido, não é nenhum exagero afirmar que o presidente da República atingiu o estágio do dá ou desce, isto é, ou cede ou perde o governo para a turma do toma lá, dá cá.

A ordem nas bases do Centrão é ocupar todos os espaços possíveis. Mudou o presidente, mas as varejeiras são as mesmas. Centenas de cargos na administração federal ainda estão vagos. É esta a razão da tentativa de encurralar Lula, cuja base de apoio no Congresso continua claudicando. Enquanto isso, o grupo de partidos de centro-direita se articula para o desenho do Executivo. O objetivo final são os cargos. Faz parte do DNA dessas legendas. É por eles que o Centrão costuma apoiar diferentes governos em troca de verbas e de espaço na máquina pública.

Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, com Lula em 2002 e em 2006, com Dilma Rousseff, com Michel Temer, com Jair Bolsonaro, de quem tomaram o governo de assalto, e será novamente com Luiz Inácio. Alguém duvida? Originário da Arena, o partido governista da ditadura militar, o PP vive de controvérsias. Por exemplo, políticos diversos da sigla estão ou estiveram envolvidos e investigados em diferentes esquemas de corrupção, entre eles o senador Ciro Nogueira. Durante anos, a Petrobras foi a “menina dos olhos” dos parlamentares do partido, primeiro a ser citado na Operação Lava Jato.

Até hoje, o Ministério Público Federal cobra o ressarcimento de R$ 2,3 bilhões equivalentes à propina paga a políticos pepistas. Na espreita, mas acostumado a figurar ao lado do poder, seja ele ocupado pela direita, seja pela esquerda, Nogueira, como bom piauiense, só está esperando tempo bom para novamente se juntar a Arthur Lira na busca do protagonismo nacional. Ciro Nogueira tem um passado de apoio e elogios rasgados a Lula, tempo em que chamava Bolsonaro de fascista.

Anos depois, virou o melhor amigo de Jair Messias, de quem foi ministro-chefe da Casa Civil. Besta quem acredita na seriedade de suas atuais queixas ao governo do PT. “Lula não disse a que veio, está criando desesperança e é uma pessoa frustrada”, são algumas das críticas que se encerram no rodapé da página 2. Aposto e dobro como basta um estalar de dedos (ops) de Lula para que Ciro viva uma nova lua de mel com o petismo. Tudo dependerá do tamanho do ministério. Esperem e verão, antes que o Inverno (ou Inferno) cheguem.

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