José Seabra
A queda de um raio num mesmo lugar não é folclore. Isso acontece. E está para se repetir em Brasília. O alvo é o PPS, um partido que está mais para milho de pipoca em micro-ondas do que arroz em panela de marinheiro de primeira viagem. É ebulição pura.
Não existe – ao menos no partido em Brasília – o famoso ‘unidos venceremos’, como noticiou Notibras na quarta, 23. Há uma voz que decide – é a do presidente Chico Andrade. E inexiste o bater do martelo de Cristovam Buarque em defesa de uma aliança encabeçada por Jofran Frejat para o pleito de 2018.
O clima de cizânia que impera no PPS ficou claro após conversa com Chico Andrade, que procurou nossa redação para dizer – sobre o almoço da véspera entre ele, o senador e os distritais Celina Leão e Raimundo Ribeiro -, que a palavra final é dele e que não há nada definido com o PR.
O que se observa é que pelo andar da carruagem o PPS caminha para o centro de uma tormenta. Chuvas e trovoadas – com os consequentes raios – tendem a atingir a legenda de novo. Repete-se, assim, o ranço ditatorial observado em 2014.
Naquele ano, embora surgisse com grandes chances de eleger-se governadora, Eliana Pedrosa foi obrigada a jogar a toalha. O barco começou a fazer água e só se manteve na superfície após as boias lançadas pelos salva-vidas Cristovam, Celina e Raimundo. O trio se filiou e socorreu uma legenda ameaçada de ser riscada do mapa, afundando em águas turvas.
O partido sentiu-se desconfortável com a notícia de uma aliança com Frejat. Até Roberto Freire, presidente nacional da sigla, telefonou dizendo que o PPS não é ‘Maria vai com as outras’. Tanto Chico quanto Roberto reconhecem uma forte liderança no homem-forte do PR em Brasília. Mas daí a baixar a cabeça e dizer sim numa eventual cabeça de chapa pelo próprio Frejat, vai uma grande diferença, diz seu presidente.
No frigir dos ovos, não há nada certo, no PPS, sobre 2018, sintetiza Chico.
Numa tentativa de dar brilho ao que supostamente está por vir, elencam-se, a seguir, algumas pérolas da conversa com Chico Andrade, por telefone:
Papo do almoço
O PPS não bateu o martelo para apoio incondicional a Frejat. Ficou definido que as conversas continuarão com outras legendas. O que se acertou ali – conforme nos chegou ao conhecimento – foi uma aliança com Frejat. Mas Chico a tudo nega. E garante que causou desconforto no partido a revelação de trechos da conversa. Na versão do presidente, o que há são conversas com diferentes forças políticas. O objetivo é elaborar um projeto de governo. Acredita até, diz ele, que só futuramente serão definidos governador e vice. Sobre o (s) nome (s) da legenda para os cargos majoritários, não há nada definido. E a palavra final, insiste, será dele.
Hora da contradição
Como a maioria dos políticos (principalmente os dirigentes partidários sem mandato popular), Chico fala muito. E se contradiz. Sustenta que não há nomes, para logo depois sublinhar que a reeleição de Cristovam é questão fechada conversa em todos os encontros. Talvez por isso ele insista que não há, da parte do PPS, a imposição de um nome para vice. Mesmo porque, como se sabe, quem tem força para exigir duas vagas majoritárias numa suposta coligação, pode se dar ao luxo e sair sozinho em qualquer disputa. Chico toca no assunto Valmir Campelo. E afirma que o ex-ministro do TCU entrou no PPS para disputar uma das cadeiras no Senado. É estranho raciocinar assim. E Cristovam, como fica?
Afagos e ataques
O PPS, palavras do seu presidente, tem um relacionamento profícuo com Frejat. Mas o partido entende que o pré-candidato do PR não é o único a estar no topo; e que não pode criar uma irmandade para que todos sigam os passos dele. Mas, se coloca um tapete para Frejat, Chico Andrade passa a rasteira no PT e nos principais aliados do partido da estrela vermelha. Não há espaço para preconceito ideológico, afirma, mas como o PPS ‘luta por decência’, não vai se aliar a uma egenda que andou escorregando até cair na Lava Jato. O PPS também quer distância do PSB e do governador Rodrigo Rollemberg. As divergências são muitas e uma composição está descartada. Quanto a Alírio (PTB) e Fraga (DEM), Chico entende que são piabas. Já Izalci (PSDB) é um peixe graúdo que merece mais respeito.
Celina e Raimundo
No que depender do presidente do PPS, os distritais Celina Leão e Raimundo Ribeiro não entrarão numa suposta barganha para uma aliança majoritária. Vice, nem pensar. Se insistirem nisso, será mera especulação, ocupação de espaço na mídia. O fato de os dois deputados serem alvos da Drácon, não preocupa o PPS. O partido usa a bandeira da decência e não quer abrigar – nem firmar aliança – com nomes ligados a denúncias. Porém, esclarece Chico Andrade, Celina e Raimundo são investigados, não foram julgados, não foram condenados. Portanto, merecem todo o respaldo da agremiação.
Reguffe no mesmo barco
Chico Andrade assegura que Antônio Reguffe estará ao lado de Cristovam nas eleições do próximo ano. Aliás, é o único nome que, se decidir disputar o Palácio do Buriti, terá os aplausos do PPS. O senador sem partido, entende o PPS, com certeza tem condições de promover as mudanças necessárias para que Brasília volte aos trilhos. Com Reguffe, resume, fica mais fácil lutar por uma cidade e governo decentes.
P/s do repórter
A conversa com Chico Andrade deixa claro que o PPS é uma panela de pressão em fogo brando. Mas, se a chama for mantida acesa, vai explodir. E não haverá bombeiro capaz de apagar as labaredas.