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Ordem descumprida

Prazo termina e Lula não se entrega à Polícia Federal

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Autor/Imagem:
Pedro Nascimento, Edição

O prazo para que Luiz Inácio Lula da Silva se entregue nesta sexta-feira na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba chegou ao fim sem que o ex-presidente dê sinais de que deixará São Bernardo do Campo, ABC paulista, onde permanece cercado por seus seguidores.

O juiz federal Sérgio Moro deu prazo até as 17h00 para que Lula se apresentasse, mas até as 17h10, o ex-presidente (2003-2010), condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, permanecia no Sindicato dos Metalúrgicos, a 400 km de Curitiba, onde já tem uma cela preparada para começar a cumprir sua pena.

Segundo pessoas próximas, Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro, deveria discursar por volta das 16h00 às milhares de simpatizantes reunidos em frente ao sindicato, muitos deles em vigília desde a véspera.

O delegado da Polícia Federal em Curitiba Igor Romario de Paula deixou a porta aberta a outro tipo de arranjos, admitindo que Lula pudesse se entregar em qualquer outro lugar para ser transferido dali até a capital paranaense.

“O cumprimento integral da decisão do juiz é que ele venha para cá. Então, se houver uma apresentação em outro local, a gente vai providenciar para trazer lo para cá”, declarou a jornalistas.

Recursos e mobilizações – A defesa de Lula apresentou pela manhã um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) na tentativa de bloquear a ordem de prisão, alegando que ela foi emitida sem que o TRF4, que o condenou em segunda instância, analisasse as objeções apresentadas contra o rechaço inicial dos recursos.

Mas o ministro Félix Fischer negou o pedido contra a ordem de prisão emitida na véspera pelo juiz federal Sérgio Moro, informou o STJ à AFP.

A defesa de Lula também solicitou à Comissão de Direitos Humanos da ONU que intervenha junto ao governo brasileiro para impedir que a prisão de Lula até que suas objeções sejam analisadas.

O PT convocou uma “mobilização geral” contra a prisão de seu líder.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) iniciou uma campanha de bloqueio de estradas para expressar sua “indignação contra a iminente prisão do companheiro Lula”. Segundo a Agência Brasil, pelo menos oito dos 27 estados brasileiros registraram piquetes rodoviários, a maioria no nordeste – reduto eleitoral de Lula -, mas também no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Em frente ao sindicato em São Bernardo, a determinação dominava e era incentivada de um carro de som.

“Ficaremos aqui pelo tempo que for preciso. Tem gente decidida a tudo”, disse Luciano Oliveira, de 24 anos. “O presidente não deve se entregar porque a gente se entrega quando fez algo errado e ele não é culpado”.

“Estamos aqui para resistir até o fim. Lula não será preso e voltará a ser presidente para ajudar o povo”, afirmou Renata Swiecik, caixa desempregada de 31 anos, mãe de quatro filhos.

“Se queriam o Lula em Curitiba, fica sentado esperando porque o Lula não vai se entregar”, declarou à multidão o dirigente do PT Paulo Pimenta. Mas também havia certo desânimo.

“É um momento muito difícil. A gente está vivendo uma injustiça social. Lula só está passando por isso porque vem de baixo”, disse, em meio a lágrimas, Fátima Camara, funcionária pública municipal de São Paulo. “Eu não acho justo ele se entregar aos leões”, acrescentou.

Lula, de 72 anos, foi condenado por ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, oferecido pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.

Na década de 1980, quando dirigia as grandes greves operárias contra a ditadura militar (1964-1985), Lula ficou preso por 31 dias.

“Lula terá que resistir, mas em algum momento terá que se entregar. Os militantes vão aceitar qualquer decisão que ele tomar”, afirmou Michelle Baza, farmacêutica de 37 anos, militante do PT.

Candidato atrás das grades? – Paradoxalmente, a lei brasileira permitiria que Lula fizesse campanha da prisão, já que sua candidatura só poderia ser invalidada em agosto pela Justiça eleitoral, que impede a participação em eleições de pessoas condenadas em segunda instância, seu caso desde janeiro.

O PT poderia se ver forçado a mudar de candidato na última hora.

Neste caso, restaria ver qual é sua capacidade de transferir votos a outros candidatos da esquerda para as eleições de outubro, que se anunciam como as mais incertas desde a restauração da democracia, em 1985.

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