Pedindo vênia e, ao mesmo tempo, protestando contra os preconceituosos, não há termo de comparação entre políticos e prostitutas. Detentoras do título de profissionais mais antigas do mundo, as moças de vida nada fácil merecem respeito, principalmente porque, queiram ou não, oferecem paz, amor, prazer e só enlouquecem excepcionalmente. São honestas até no fingimento do orgasmo. Elas trabalham todos os dias, normalmente são discretas, cobram preços justos, dormem com qualquer um, mas não têm rabo preso, não pedem votos, prometem muito pouco e nunca fogem dos compromissos assumidos com seus seguidores.
Por isso, são conhecidas por 11 entre dez “fregueses” como os anjos da sociedade moderna. Quanto aos incluídos na segunda mais antiga profissão do planeta, os políticos, alguns poderiam ser incluídos na extensa lista de filhos das mães substitutas. Ou do demônio em figura de gente. Ao contrário delas, eles só fazem barulho, mentem até rezando, mordem e assopram, gozam com a cara dos eleitores, surrupiam os cofres públicos como se estivessem em uma orgia adocicada por Baco, o Deus do Vinho, e adoram uma cueca larga para cobrir o morto e eventualmente esconder o capilé que recebem por meios nada republicanos.
Também no sentido oposto das moças, a maioria da prole não consegue se passar por honesta. Aos que insistem em semelhanças entre umas e outros, há uma inquestionável: ambos realizam seus ofícios sem se importarem com as consequências de seus atos. A maior diferença é que a prostituta empresta ou cede o corpo àqueles que a procura a fim de obter prazer em troca de alguns reais. Já o político, com algumas exceções, vende a alma ao velho Diabo em troca de poder e de milhões de reais. Ou seja, embora elas e os cidadãos de todas as suspeitas adorem dinheiro, o preço acertado é o que os diferencia.
Na Bíblia e em todos os almanaques de padarias, ainda que aparentemente sejam extremos, eles e elas se vendem com a mesma agilidade de um tatu voltando para o buraco. A prostituta vive exclusivamente das partes guardadas em peças perfumadas de seda ou de renda. Como um inseto chupador de sangue, o político usa o ferrão camuflado para negociar seus favores e, desse modo, aumentar significativamente a renda mensal. Para isso, costuram a governabilidade de prefeitos, governadores e presidentes da República mediante pagamento. E não é um pagamento qualquer.
Acostumados a determinar o mínimo para os demais brasileiros, inclusive o “pró-labore” das moças, as excelências não conseguem viver com limites de gatos. Ou seja, embora sujeitem o povo a leis perversas, elas têm poderes ilimitados. Em outras palavras, o político só tem o povo quando esse mesmo povo não tem dinheiro. Já o povo sem dinheiro nunca tem o político. Portanto, dinheiro e política sempre se completam. A política domina o mundo, mas é bizarra e demoníacamente dominada pelo dinheiro.
Interessante é que para a maioria dos falsos profetas, alguns com acento quase perpétuo no Congresso, prostituição é pecado. São os mesmos que, ativa ou passivamente, se corrompem como ativos recolhedores de dízimos. Está escrito na Bíblia que Jesus transformou prostitutas e ladrões por meio do amor. Não há, porém, sequer um verbete a respeito da cura dos homens e das mulheres que, sempre mirando o voto, juram representar a sociedade. Apesar da expressiva parcela de parlamentares profanamente evocando Jesus nas diversas casas de leis, tenho a impressão de que desses o filho de Deus quer distância.