Golpistas, covardes, vândalos, baderneiros e patriotas de meia tigela. Assim devem ser denominadas as duas dúzias de bolsonaristas que, em bandos embandeirados, insistem em obstruir vias públicas pedindo intervenção federal e fazendo críticas ao Supremo Tribunal Federal e ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A lista de adjetivos poderia ser bem maior, mas imagino ser desnecessário continuar espezinhando seres humanos que não merecem sequer esse conceito. Qualquer animal, mesmo os selvagens, tem o timing exato do recuo. Supostamente racionais, os integrantes desses grupos, além de priorizar o ódio, trabalham diariamente pelo confronto, mas fogem ao primeiro sinal de reação mais contundente.
Resumindo antecipadamente a narrativa, o resultado da eleição mostrou que a estupidez humana não tem limites. Infelizmente, o limite é a mesma força que eles acreditam ter. Nessa quarta-feira (2), dia dedicado aos mortos, aos zumbis e a mais um Flamengo e Corínthians, alguns trechos de rodovias do sentido São Paulo-Rio de Janeiro foram desbloqueados com a rapidez de um raio. Bastou a ação de caravanas democráticas da torcida organizada Gaviões da Fiel para os covardes fugirem como meninos mijados ou com as fraldas cheias. Loucos para chegar ao Maracanã, torcedores corintianos tomaram faixas e bandeiras erguidas em manifestações de bolsonaristas inconformados com o resultado do último domingo (30). E chegaram com facilidade à Cidade Maravilhosa.
Fantasiados de verde e amarelo, esses arremedos de cidadãos se acham no direito de fechar ruas, avenidas e rodovias para defender um governo que contribuiu diretamente com a morte de quase 700 mil brasileiros. Pior é reivindicarem uma intervenção militar que a maioria certamente nunca experimentou. E os que eventualmente experimentaram devem estar saudosos das benesses que conquistaram à época. Não há outra explicação plausível para tamanha sandice. Se opor a uma vitória cristalina é de uma estultice própria dos animais raivosos e descontrolados, os quais, lamentavelmente, precisam ser sacrificados ou enjaulados até que recuperem um mínimo de socialização.
Não é de hoje, a turma da baderna, do ódio e do preconceito incivilizado só pensa nela e nas vantagens que irão perder. Esquecem do outro lado, onde estão mais de 60 milhões de eleitores que optaram pela liberdade, que lutaram pela democracia. Esperem 2026 e tentem conseguir reverter os 2,1 milhões de votos que separam Lula de Bolsonaro. Simples assim. Até lá, o choro é livre, mas respeitem os que são alegres, felizes e de bem com a vida. Afinal, ninguém tem culpa da infelicidade alheia. Levantem-se e lutem por dias melhores. A outra hipótese é se unir aos vencedores e, juntos, tentar tirar o país do isolamento. Pelo menos, seguir a ordem do vencedor da eleição, que é excluir de vez o Brasil do mapa mundial da fome.
Nessa altura do campeonato, quando o campeão já está com a taça nas mãos, faltando apenas a faixa ilustrativa do título, radicalismo é palavra morta. Aliás, tudo a ver com o Dia de Finados, data de reflexão e de lembrança daqueles que, embora vivos, não estão mais entre nós. O importante é agradecer ao Criador, ao Deus acima de tudo e de todos, pelo curto tempo que o mito esteve conosco. O negacionismo, o ódio e as múltiplas mazelas o tempo se encarregará de corrigir. Por enquanto, no dia da saudade, devemos recordar com imensa alegria a partida daquele que a maioria jamais amou. Que padre Kelmon cuide de sua paz e de seu descanso eterno. O Brasil de todos precisa despertar rapidamente.
Que os bolsonaristas relaxem, pois o líder da seita está com o futuro garantido. A demora em reconhecer a derrota foi de caso pensado. Antes de passar à condição de quase ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro fez o que faz de melhor há décadas: se preocupar com o próprio futuro. Garantiu mais um cascalho dos cofres da União. Só decidiu fazer o longo, inesquecível e pomposo discurso após conseguir do prócer e premiê do PL a certeza de que não sairá de mãos vazias. Contradizendo o mentiroso discurso do empreendedorismo e de menos Estado, Bolsonaro novamente se valerá do dinheiro público para “sobreviver”. A partir de janeiro, ele será o consultor do partido de Valdemar Costa Neto. Nada mal para quem deixará como lembrança apenas uma ida que, esperamos, seja sem volta.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978