Nair Assad, Edição
A casa é outra: ganhou vida e alegria depois da chegada de uma bolinha de pelos que, aos poucos, foi seduzindo a família. Logo todos passaram a suspirar ao vê-lo dormir, a falar com ele no diminutivo e a fazer mais uma porção de coisas que se repetem em 43% dos lares brasileiros – esse é o número de residências no país que têm cão ou gato.
Até mesmo gente que torcia o nariz para adotar um bicho tem se rendido à experiência, e o volume de apaixonados só cresce: o último Censo do IBGE, de 2013, mostra que há 52,2 milhões de cães e 22 milhões de gatos nas casas do Brasil. Provavelmente, esse número já deve ser bem maior, sem contar outros pets.
Essa gente sabe o quanto o clima da morada se transforma, como a rotina fica mais leve e mais engraçada. “Animais levam as pessoas a se expressarem afetivamente de forma muito mais espontânea, ou seja, podemos ser nós mesmos, sem censuras – ao contrário do que acontece quando lidamos com humanos e precisamos pensar antes de falar ou agir”, explica a psicóloga Angelita Scardua, mestre em psicologia social e autora do Projeto Hestia, que estuda a felicidade no morar.
“Eles também são capazes de unir os moradores de uma casa. Ao observarmos os comportamentos deles, nós os transformamos em um assunto que nos conecta. Rimos de bobagens, e isso, naturalmente, melhora os índices de felicidade do lugar”, completa.
Assim, eles entram para a família de mansinho, tomam conta da casa, dormem na nossa cama, destroem livros, móveis… e nós rimos de tudo. Mas alto lá! Essa história não precisa terminar assim. O final feliz vem depois que você souber se tem feito tudo o que pode pela relação lar-família-bichos – porque ela vai durar muitos anos!
Espaço
Se você mora em um imóvel de metragem reduzida, pense se haverá uma área disponível para o pet andar, brincar e pular livre de correntes que possam causar enforcamento, aponta a veterinária Karine Raile, da Cobasi. Pense também no porte do animal: raças grandes precisam de espaço para se locomover. “Não é recomendado criar um labrador ou um pastor alemão em um apartamento”, aponta. Calcule que também será preciso acomodar no ambiente a caixa de areia ou o tapete higiênico, além de outros elementos que fazem parte da rotina do pet: comida, xampu, cama etc.
Quarto fechado
Segundo alguns estudos, a imunidade humana aumenta quando em contato diário com bichos, mas a regra é válida para os que vivem fora da casa. “Conviver com animais é extremamente saudável em todos os aspectos, desde que estejam ao ar livre. Em espaços internos,eles oferecem agentes alérgenos, como pelos, peles resultantes de descamação, saliva e ácaros, que contaminam a residência”, explica o médico José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergologia e Imunologia, Asbai. Ele sabe, no entanto, que é difícil viver longe deles. “Se for inevitável que eles transitem pelo interior da casa, a dica é manter as portas dos quartos fechadas, impedindo o acesso a essas áreas”. Puxa, doutor, dá uma colher de chá, vai? Muita gente dorme com seus pets… É tão ruim assim? “Se a pessoa não tem alergia é até aceitável, embora não seja um hábito saudável. Infelizmente, é um ato impensável para os alérgicos”, sentencia. Nesse caso, melhor não insistir e adotar um bicho que não tenha pelos.
Cuide das plantas
Antes de comprar plantas para a casa, pesquise se elas trazem riscos para os animais. Espécies como espirradeira ou comigo-ninguém-pode, copo-de-leite, antúrio, azaleia, espada-de-são jorge, lírio e violeta devem ser evitadas. “O ideal é que, quando a pessoa for comprar uma planta, pergunte ao veterinário se é tóxica ou não”, aponta a veterinária Karine Raile, da Cobasi.
Olha o perigo
As pessoas geralmente se esquecem de guardar remédios, cosméticos e produtos de limpeza que podem ser ingeridos pelos pets, causando sérios problemas à saúde deles. Deixe tudo no alto, longe do alcance, e lembre a família disso.
Sombra e água fresca
A cama e a casa do animal devem ficar em área coberta, protegida de temperaturas altas ou baixas. “A casinha não deve ficar em locais em que há incidência do sol durante o dia todo”, diz Karine.
Arranhar e estragar
Os gatos amam arranhar móveis e tapetes para afiar as garras, enquanto também alongam os músculos. “A melhor forma de evitar isso é comprar um arranhador e ensinar o gato a utilizá-lo, passando a pata dele no objeto ou usando um pouco de erva de gato, que atrai o interesse do animal”, aponta a veterinária. Já os estragos causados pelos cães geralmente escondem sua ansiedade ou tédio. “Um filhote é mais ativo que um adulto e tem mais necessidade de ser entretido. É preciso ‘cansar’ o cachorro, passeando com ele de uma a duas vezes por dia e oferecendo brinquedos que gastem sua energia”. Para quem trabalha e precisa deixar o animal sozinho o dia todo, a dica de Karine é apostar nos brinquedos que têm abertura para colocar petiscos, que os mantêm concentrados por um bom tempo.
As raças
É uma generalização dizer que há raças mais tranquilas e outras mais agitadas. De acordo com Karine, o comportamento de cada animal depende de sua personalidade, do ambiente em que vive, da educação que recebe e da castração. “Machos não castrados podem ser mais agressivos do que fêmeas não castradas, pois têm maior instinto de proteção ao território”, explica, aconselhando a castrar sempre, macho ou fêmea.
Os cuidados
É um direito de todos os pets ter água disponível, alimentação de duas a três vezes por dia e carteira de vacinação em dia. Para os cães, os banhos devem ser quinzenais. No caso de cães e gatos, é necessário vermifugar o pet e dar a ele tratamento antiparasital (para evitar pulgas e carrapatos).
Segurança
Antes de tudo, providencie telas para as janelas, a varanda ou para o quintal, para que o animal não vá para a rua. “O gato, por exemplo, pode contrair doenças transmitidas pela saliva, como Aids felina, e está exposto a atropelamentos”, acrescenta. Quanto aos passeios, cães e gatos são bem diferentes: os cães precisam passear com coleira e guia entre uma e duas vezes por dia, se as vacinas estiverem em dia. Já no caso dos gatos, o acesso à rua não é recomendado, porque pode expô-los a doenças. “Se o local onde o gato vive for espaçoso, tiver brinquedos e áreas onde ele possa pular, o animal não terá necessidade de ir à rua. Gatos são animais curiosos, curtem ficar na janela, observando tudo. Isso não é sintoma de tristeza.” Passeando ou não na rua, a dica é aplicar um chip no pet. “Acidentes acontecem ou ele pode acabar fugindo.” Quer uma alternativa mais econômica? Uma coleira com plaquinha informando o nome e o telefone do dono.
Limites
Não adianta fazer todas as vontades do animal, pois isso o tornará um tirano. “Deixá-lo crescer sem regras ou limites faz com que a convivência na família não seja muito agradável. Eles podem fazer suas necessidades em qualquer lugar, latir incessantemente, destruir objetos, tornar-se agressivos, entre outros transtornos decorrentes da falta de liderança não estabelecida”, explica o adestrador Ricardo Tamborini. Desde cedo é preciso ensinar ao pet, com palavras firmes, que ele não pode subir na mesa, nem pedir comida ou pular nas pessoas. No caso dos cães, as lições podem começar aos dois meses de idade. “A fase de formação de caráter deles se inicia nessa fase e vai até o nono mês de vida”, diz Tamborini. É nesse período que ele vai absorver os aprendizados para a vida, ou seja, de acordo com o adestrador, é o momento ideal para mostrar quem é o verdadeiro dono da casa.