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Flamenguista e paolmeirense

Presente trocado acirra disputa entre irmãos

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - de Arquivo

Nos idos dos anos 1980, aqueles dois irmãos, Tonho e Juca, apesar de mineiros, eram torcedores de times de outros estados. O mais velho era flamenguista, enquanto o menor, talvez influenciado por glórias passadas, torcia fervorosamente pelo Palmeiras. O pai até que gostava de futebol, mas a mãe, mais sábia, queria paz.

Durante os campeonatos estaduais, a discórdia entre os meninos era mínima. No entanto, bastava começar o campeonato brasileiro, perigava sair até faísca. Juca, no auge da sua meninice, passou perrengue de ver seu time do coração ser massacrado até que, já um jovem rapaz, passou a cantar de galo, quando o Palmeiras venceu e venceu e venceu.

É certo que aconteceram outros altos e baixos de Flamengo e Palmeiras. Tonho, mais afeito a brincadeiras, adorava quando conseguia deixar o irmão emburrado. Na verdade, nem precisava fazer grande esforço para atingir seu intento. Se o Palmeiras perdesse até mesmo um simples amistoso, Juca fazia aquele bico. Era a deixa para que o mais velho caísse matando e, não raro, a mãe precisava intervir para garantir que a prole saísse ilesa.

Já homens feitos, casaram, tiveram filhos e foram morar em São Paulo. No entanto, voltavam para as comemorações de Natal, quando a mãe preparava um delicioso pernil à pururuca. Momento de reencontros, abraços, beijos, choros, promessas de união, até que, perto da meia-noite, os presentes foram distribuídos.

A mãe, que não estava encontrando os óculos, acabou se confundindo na hora de entregar os embrulhos para os filhos. Eles, sorrisos francos estampados nos rostos barbados, abriram os presentes sem se darem conta do equívoco da matriarca. Pra quê? Tonho logo percebeu o verde daquela camisa e, sem perder a oportunidade, emendou: “Mamãe, que bom! Adorei! Lá em casa estamos mesmo precisando de pano de chão”.

Juca, percebendo a atrapalhada da mãe, rasgou o pacote e atirou a blusa do Flamento pela janela. Foi um escarcéu, até que a velha, cansada daquela desavença, gritou tão alto, que até despertou o velho gato, que dormia preguiçosamente no cesto no canto da sala.

– Chega!!! Já não aguento mais essa besteira de time!

Os marmanjos, constrangidos pelo papelão, ainda tentaram se desculpar. Falaram que o futebol era algo que aflorava as emoções. A velha, ao ouvir isso, olhou para os filhos e, sem perda de tempo, emendou:

– Se vocês não conseguem viver civilizadamente com essas emoções, que façam como eu.

– Como assim, mamãe?, perguntou Tonho.

– Simples! Não tenham time!

– Ou, então, que vão torcer pro Real Madrid, emendou o pai.

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