Notibras

Presidenciável acha mais fácil culpar urna pela perda de votos

Desde o advento do sistema eletrônico de votação, em 1996, quatro presidentes e quatro vice-presidentes da República foram eleitos com votos depositados na urna criada pela Justiça Eleitoral para acabar com qualquer tipo de fraude ou fraudadores. Desses, três mandatários e três vices conquistaram a reeleição. Um dos vices acabou presidente, mas, por falta de votos, preferiu não disputar a Presidência em 2018. Também pela escassez de eleitores, uma das vertentes da última dupla eleita corre o risco de ficar pelo caminho em 2022. A outra talvez concorra a novo cargo majoritário, provavelmente o Senado Federal. Curiosamente, deve ser jubilado justamente aquele que mais suspeitou (e nada provou) da maquininha elogiada por gregos, troianos, mexicanos, norte-americanos, equatorianos, paraguaios e até argentinos.

Castigo dos deuses do olimpo tecnológico? Certamente que não. Mas, caso seja penalizado com a derrota, não duvido que a causa esteja relacionada com o quantitativo de promessas não cumpridas e, principalmente, com as “coisas” mal produzidas, feitas pela metade ou negadas à exaustão. E não há necessidade alguma de citá-las, pois todas estão bem vivas no consciente e no inconsciente dos eleitores, sobretudo os que passam fome, perderam entes queridos para a Covid-19 ou tiveram de vender ou trocar carros e casa por um litro de gasolina, um botijão de gás ou um quilo de feijão ou carne. Está provado que os malfeitos punem. A urna eletrônica é apenas o depositário fiel da insatisfação do povo brasileiro. O que ocorre no Brasil de hoje é simples e havia ocorrido outras numerosas vezes. De modo muito claro aconteceu no pleito de 2018, quando elegeram um poste sem número de série apenas para se opor a um candidato que não concorreu porque cometeu erros crassos e também deixou de cumprir com o prometido.

O eleitorado, que parece estar sempre sonolento, acordou e puniu. O fato tende a se repetir ano que vem, mas com os atores em papéis invertidos, isto é, quem se beneficiou com a punição agora deverá beneficiar o punido. Parece enredo de telenovela mexicana, mas é somente mais uma das manifestações do brasileiro tentando consolidar caminhos menos tortuosos e mais perenes para a insossa política nacional. As pesquisas vêm comprovando o fracasso da atual administração e clareando cada vez mais a já cristalina insatisfação popular com a gestão socioeconômica e da pandemia. Com um congestionamento de postulantes, a eleição ainda está aberta. Os números são matemáticos, não têm o poder de antecipar resultados, mas são insuspeitos quando utilizados como prognósticos. Assim são as pesquisas. Mesmo que os dados sejam esclarecedores, é cedo para excluir qualquer nome do palco eleitoral.

Entretanto, dificilmente o líder de todas as consultas de intenção de votos não estará no segundo turno. Resta saber contra quem. Pode ser o poste que virou mito, mas nada impede que surja e se concretize uma figura nova no cenário. Quem sabe o ex-juiz condenado pelo STF, mas que tem tirado o sono do principal ocupante do Palácio do Planalto e de seus colaboradores. Tanto isso é verdade que, na véspera do fim de semana, o ministro Paulo Guedes previu uma guerra nuclear a partir de uma imaginária vitória de Sérgio Moro: “Ou eles botam o Moro pra fora ou ele fecha o Congresso”. A previsão não é de todo mentirosa, embora para isso não basta ser eleito presidente. Além do ex-juiz, determinados levantamentos revelam expressiva porcentagem de eleitores dispostos a novamente eleger uma mulher para o cargo mais desejado do país.

Com a promessa de convulsionar a terceira via e com chances reais de incomodar a polarização Bolsonaro versus Luiz Inácio, esse nome foi lançado semana passada pelo MDB. Trata-se da professora, advogada e senadora Simone Tebet (MS). Ainda que não seja conhecida do grande público, ela conseguiu se destacar nacional e mundialmente na CPI da Covid, onde seu trabalho acabou gerando uma paródia da velha máxima do elefante da Galinha Pintadinha: se três beatos – Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) – incomodam muita gente, uma mulher de brio e séria incomoda muito mais. E como incomodou. Que o diga Wagner Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União.

A eleição está a dois passos de nós. Falta o tempo necessário para que a Justiça Eleitoral conclua o árduo trabalho de garantir ao Brasil e ao mundo que o voto dado será o voto contabilizado. Quanto aos candidatos, o ideal é apagar a corroída imagem de benfeitores de si mesmos e tentar contribuir para que o mamão deixe de ser a única fruta do consumo diário da maioria do trabalhador brasileiro, que está sempre com uma mão na frente e uma mão atrás. Sobre a urna eletrônica, que culpa tem a maquininha de votar caso se confirme a derrota antecipada daquele que nada fez para merecer julgamento melhor? Com a palavra meu amigo Zé, o principal discípulo dos ninjas que há 25 anos revolucionaram a eleição brasileira, assegurando segurança e confiabilidade ao sistema e esvaziando o discurso dos inventores de fraudes. Outubro de 2022 está logo ali, mas ainda há tempo de pensar bem antes de novamente chorar o leite derramado.

Sair da versão mobile