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Cadeira hereditária

Preso, Anderson Torres tenta reemplacar o seu antecessor

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Autor/Imagem:
José Seabra - Diretor Editor/Foto Valter Campanato

No final de março de 2021, quando André Mendonça foi alçado como ministro terrivelmente evangélico na Suprema Corte, Anderson Torres deixou a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para assumir o Ministério da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. Na ocasião, o secretário executivo, Júlio Danilo, assumiu como secretário em definitivo, só devolvendo a cadeira até o retorno do antigo chefe, já nos primeiros dias do reeleito Ibaneis Rocha (MDB) e da posse de Lula no Planalto pela terceira vez.

Júlio Danilo, apesar de devidamente informado pela sua inteligência, permitiu que em 12 de dezembro último uma turba bolsonarista, que estava no acampamento golpista protegido pelo QG do Exército, tentasse invadir a sede de seu órgão de origem, a respeitada Polícia Federal, onde ele e Anderson são delegados de carreira.

Júlio aproveitou a ocasião para se colocar à disposição do ex-governador do Maranhão e senador eleito Flávio Dino, que coordenava a pauta da segurança na transição do Governo Federal, prometendo garantir a segurança pública na Esplanada dos Ministérios durante a posse de Lula.

Promessa cumprida para ganhar a confiança do novo governo. Por trás de tudo isso, já se preparava a nova tentativa de golpe do domingo, 8. Anderson viajou com toda família para a Disney,  em Orlando, Estados Unido, logo após tomar posse. Confiou a Fernandão Oliveira, seu novo secretário executivo e eventual substituto, a execução da operação que comandou da Flórida, sorridente, ao lado de Bolsonaro, segundo relatos que chegaram a Notibras.

Achavam que a turba entraria de forma ordeira e ocupariam os espaços públicos protegidos pelo Exército, que pretendia liderar uma operação de garantia da lei e da ordem (GLO). Só que deu tudo errado – ou sabe-se lá se premeditado. O fato é que os golpistas não se contentaram apenas com a ocupação do espaço. Quebraram as sedes dos três Poderes e provocaram, consequentemente, a intervenção federal na segurança pública da capital da República.

Às pressas, Flavio Dino teve que indicar como interventor federal seu secretário executivo, o ex-presidente da UNE Ricardo Cappelli. Jornalista de formação e político por vocação, Cappelli ainda engatinha na pauta da segurança pública, sendo de imediato ladeado por militares que solícitos por assumir as posições de poder, já trataram de confeccionar um colete para o novo comandante com seu nome impecavelmente bordado. Confiança estreitada, gestores da equipe de Júlio Danilo, que haviam sido exonerados nos primeiros dias de janeiro de forma conveniente, voltaram a assumir as chefias.

O interventor, por ter crescido no Rio de Janeiro, feito sua vida política desde estudante em São Paulo e trabalhado com Flavio Dino em São Luís do Maranhão, não conhecia ninguém no GDF. Logo, Anderson Torres, mesmo preso no Batalhão de Aviação Operacional da PMDF, no Guará, tem, teoricamente, mais condições de indicar novamente seu sucessor. E como em time que está ganhando não se mexe, ele  atua por meio de interlocutores junto à governadora em exercício para reemplacar seu fiel Júlio Danilo como Secretário de Segurança Pública, agora como indicado pelo Governo Federal. Ao menos é isso que passa na cabeça o delegado hoje atrás das grades.

Alguns diriam: como, se Anderson está preso? Ora, ele tem nada mais nada menos, como seu advogado. o amigo de Carlos Cachoeira, ex-senador Demóstenes Torres, que já informou que é patrono da causa pro bono. Ou seja, sem que Anderson precise desembolsar nem mesmo as custas processuais. Como não existe almoço grátis, quando não se paga por um serviço é porque o produto é você. Qual será o preço que Júlio Danilo, se voltar a ocupar a cadeira, terá que pagar para compensar os gastos com a defesa de Anderson?

A construção do apoio vem de uma articulação de Anderson, via advogado, com uma ala bolsonarista ainda com poder dentro da PF e apadrinhamento dos líderes do Centrão Arthur Lira (presidente da Câmara) e o senador Ciro Nogueira, ex-ministro de Bolsonaro, junto a governadora interina Celina Leão, todos do PP.

A bem da verdade, Demóstenes, apesar de declarar estar dedicado à defesa de Anderson, ainda não deu as caras no BAVOP, deixando tal missão ao advogado Rodrigo Roca, que já atuou na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das “rachadinhas” e de Sérgio Cabral, na Lava Jato carioca. Lembre-se, a propósito, que Roca foi subordinado a Anderson no Ministério da Justiça, onde já operava pelos interesses de Carlos Cachoeira.

Agora resta saber se realmente tal armação dará certo ou o presidente Lula, já melhor informado, irá buscar alguém mais leal e conhecedor do Distrito Federal para garantir que durante o afastamento de Ibaneis, imposto por Alexandre de Moraes, a paz reine e que novos problemas com manifestantes golpistas não ressurjam.

O que Lula por certo não permitirá, é que façam da cadeira de secretário de Segurança Pública uma espécie de capitania hereditária, trocando-se a bunda nela sentada pela de um amigo, como se fosse uma herança vitalícia.

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