Nessa semana recebemos a primavera, consagrada época de amor. Animados pelos acordes borbulhantes da música de Vivaldi (ah, a sempre marcante beleza desse famoso concerto do compositor italiano em As Quatro Estações ), os dias leves como açúcar, a luz nítida como cristal, o ar puro como perfume, convidam ao romance.
Nesse momento em que o sentimentalismo escorre como néctar por todos os cantos e frestas, uma das piores sensações que pode nos assaltar é a dor do amor não correspondido – mesmo com o passar do tempo, clássico e doloroso, aumenta ao invés de, como gostaríamos, diminuir.
São grilhões pesados, aprisionam independente de qualquer esforço sensato e racional. A paixão, como expressam bem os poetas, cega e escraviza. A sensação negativa de amar sem ser amado, o vazio na entrega da correspondência, costuma deixar, por longo tempo, sequelas, comprometimentos e cicatrizes.
Acompanhei inúmeras vezes o desdobramento agitado dessa situação. Seja entre pessoas que apenas se conhecem e convivem – sem nunca ter havido, por parte do apaixonado, declaração ou busca de namoro –, seja envolvendo casais – separados ou não – em que não há (ou não houve) equilíbrio na troca amorosa.
Nesses casos, continuar amando é fonte de sofrimento. O apaixonado segue, tateando, tropeçando, angustiado na procura de uma solução que nunca é encontrada. Para ele é como se o tempo tivesse parado: nada se modifica, os passos se repetem exaustivamente – caminhada solitária, estrada deserta, difícil de trilhar.
É pena. Porque o amor – verdade mesmo – não pode carregar tristeza e peso para quem ama. Pelo contrário, precisa ser clareza e compreensão, cumplicidade e respeito recíproco.
Qualquer coisa que não funcione assim não é amor, é carma, algo que não está bem resolvido, problemas vindos do passado, de uma vida anterior. A pessoa acredita que está amando, mas, na verdade, não está. A alma, querendo saldar seu carma, traduz sentimentos como amor, gerando magoas e desequilíbrios.
O carma não se desfaz facilmente, daí as confusões entre certos sentimentos e amor. Para resolver, se livrar da infelicidade, a solução é orar pelo ser que se julga amar: conforta, soluciona, colabora inclusive para o surgimento de um novo amor. Abrace essa tarefa espiritualista inspirando-se nesses dias de primavera, tempo ameno e de renovação.
Marina Gold