Lembrança eterna
Primeiro Fla-Flu é igual Valisére, até nas bolinhas
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emA minha mulher ainda não conhecia o Maracanã e, então, fomos até as Laranjeiras comprar ingressos para o Fla x Flu, que aconteceria na noite do dia 09/06/2019. Há muitos anos, eu também não visitava esse lendário palco do futebol e, por isso, me animei, mas não tanto como a Irene, que é apaixonada pelo esporte bretão, bem como torcedora, daquelas bem chatas, do Palmeiras.
Lá estávamos diante daquele monumento, que fora erguido para a Copa de 1950. Muita gente, a maioria flamenguista, como o esperado. Afinal, o torcedor do Fluminense não é muito de sair do conforto do seu sofá, ainda mais quando o adversário é o grande favorito.
Passamos pela roleta, subimos as rampas de acesso, eu notei as lanchonetes, agora bem mais agradáveis, bem como os banheiros, incrivelmente limpos. Logo de cara pensei que o Maracanã havia melhorado desde a última vez. Todavia, quando realmente entramos naquela redoma onde os milhares de torcedores ficam, veio uma das maiores decepções que senti. O que fizeram com o Maracanã? Gente, isso é crime de lesa-pátria das chuteiras!
Sumiram as arquibancadas, a geral já havia desaparecido há anos. Aquele monte de cadeiras postas em um ângulo péssimo para ver o campo por completo, haja vista as enormes placas de propaganda. Aquilo ali poderia ser tudo, menos o enorme templo em que eu havia conhecido desde meus tempos de criança, quando fui levado pelas mãos vascaínas do meu pai.
A minha esposa e eu nos sentamos ao lado de um casal com algumas crianças. A esposa do cara parecia muito apaixonada pelo Flamengo, pois não parava de gritar “BRUNO HENRIQUE!!!”, que poderia, caso fosse em outras épocas, ser chamado de ponta-esquerda. Aliás, um ponta-esquerda à la Paulo César Caju! O jogo foi seguindo, sem grandes emoções. Quando a bola chegava próximo à lateral de onde estávamos, tínhamos que adivinhar o que estava acontecendo, pois as placas tampavam a nossa visão. Mas relevamos isso, afinal, não dava para ficar reclamando da situação. Até que chegou um cara vendendo pipoca em um balde de plástico. Dez reais!!! Saquei uma nota e peguei por aquele monte de milho estourado.
A fã do Bruno Henrique cutucou o marido e disse que também queria um balde de pipoca. No entanto, devido ao elevado preço, ele titubeou por um instante, mas acabou pagando pela mercadoria, vendida a preço de ouro, para não entrar em conflito com a amada. Essa situação não passou despercebida pela minha esposa: “Ingresso caro, sem arquibancada, sem geral, pipoca aos olhos da cara, o futebol virou produto pra rico”. Para combinar com esse desalento, o placar apenas confirmou a falência do futebol: zero a zero.
Na saída do estádio, telefonei para o meu grande amigo Antonio Manoel, pois iríamos nos encontrar, dali a pouco, num bar em Copacabana. Eu lhe disse que chegaríamos em no máximo meia hora. Já no metrô, fiquei em pé, enquanto a minha mulher estava sentada à minha frente. Logo em seguida, um rapaz, com a blusa do Super-Homem, ficou ao meu lado. Talvez você não entenda por que fiz o que fiz em seguida, mas provavelmente você não é do Rio. Pois bem, eu cutuquei de leve o rapaz e tivemos o seguinte interlúdio, talvez só possível na Cidade Maravilhosa.
– Ei, por que você não veio voando?
– Sabe o que é? Hoje eu tive que salvar o mundo outra vez e estou cansado. Por isso preferi pegar o metrô.
Essa breve conversa com esse rapaz, com certeza também carioca, levou um pouco daquela tristeza que senti com o que fizeram com o maior estádio de futebol do planeta. O Rio precisa de mais pessoas como esse Super-Homem do metrô carioca.