Chover no molhado
Prioridade zero dos puxa-saco é perdoar Bolsonaro

O Brasil está à míngua e à mercê de um grupo expressivo de vândalos engravatados e que atendem pelo apelido de representantes do povo. Lamentável, mas não há outra adjetivação para a turma de deputados e senadores que tentam legitimar atos contra a vida e a democracia. A ideia de dar continuidade ao golpe de 8 de janeiro de 2023 já passou dos limites. O tempo perdido por suas excelências para anistiar golpista e salvaguardar o articulador da trama poderia ser melhor utilizado. Não será.
Há no congresso Nacional mais de mil projetos de relevância social aguardando votação, entre eles o combate aos “supersalários” no funcionalismo público. Azar do povo que ganha mal. A prioridade da oposição ao governo federal é aprovar a anistia aos que atacaram a República. A verdade nua e crua é que os chamados parlamentares de oposição (os puxa-sacos de Jair Bolsonaro) estão se lixando para o Brasil. Querem que o país se exploda, desde que salvem o mito e seus asseclas da guilhotina já montada pelo Supremo Tribunal Federal.
A toque de caixa, os líderes das bancadas bolsonaristas decidiram se antecipar e protocolaram o requerimento de urgência para votar o projeto que garante o perdão aos terroristas que vandalizaram a Praça dos Três Poderes, inclusive o Congresso Nacional. Apesar da pressa, a proposta só será apreciada – se for – depois da Páscoa. Como não há dúvida de que a intenção é livrar da cadeia Jair Bolsonaro e os seis generais idealizadores, planejadores e comandantes do levante contra a democracia, a expectativa é de que alguns dos 262 deputados signatários dessa aberração constitucional recuperem a memória, repensem seu futuro político e deem um jeito de retirar suas assinaturas.
O recuo evitaria o acirramento de uma crise institucional que está por um fio. Essa é a expectativa do governo, do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (União Brasil-PB), de pelo 56% dos brasileiros e, principalmente, da maioria dos ministros do Supremo Tribunal, aos quais caberá a última sobre a matéria. Os senhores de toga aguardam somente o desfecho da proposição para se pronunciarem pela inconstitucionalidade de mais esse desatino da bancada bolsonarista. Enquanto esperam, os magistrados enviam recados informais via deputados governistas.
Em um deles, os homens de capa preta informam que não cabe ao Legislativo trabalhar para obstruir ou anular um julgamento já iniciado. A mensagem mais relevante, contundente e quase unânime é a mais simples: não há perdão para quem atenta contra o regime democrático. No meio das “advertências” está posto que todas as penas impostas aos golpistas estão em acordo com a legislação penal e que eventuais modificações serão feitas pelo próprio STF. Portanto, tudo indica que o jus sperniandi deverá ser inócuo.
Os defensores do golpismo e os simpatizantes dos “patriotas” metidos a terroristas fingem não saber, mas qualquer menino do Maternal I sabe que o Congresso não é instância revisora de decisões do STF. Caso insistam com a ideia, o monstrengo criado pelo PL de Valdemar Costa Neto será entendido como interferência de um poder em outro. Em outras palavras, dificilmente o instrumento forjado para livrar Bolsonaro evoluirá. Afinal, o Brasil de hoje não é mais um feudo, tampouco um brinquedinho na mão de pessoas sem cultura política e sem nenhum comprometimento público. Entendamos de uma vez que o país é muito maior do que qualquer ilusionista racista, misógino, inábil, violento e incapaz.
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Mathuzalém Júnior é jornalista desde 1978
