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São mais 400 barragens a perigo

Prisão só para Schvartzman? E Dilma, Pimentel, Temer etc etc etc

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Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Enquanto os números das perdas humanas na catástrofe de Brumadinho ainda nem definitivos estão, a opinião pública já se depara com o conhecido jogo de empurra-empurra entre os responsáveis, a qualquer grau que seja, por mais um desastre humanitário e ecológico. O Rio do Vale Doce, destruído há três anos pelo que ainda consta como maior crime ambiental da história, é testemunha triste e resignada que pouca coisa, ou mesmo nada mudou. Apesar do volume de resíduos de mineração, desta vez, ser muito menor, as terríveis imagens da lama mortífera impressionam ainda mais pelas vidas que levaram. Um ar de déjà vu que causa indignação.

Como não poderia deixar de acontecer no clima político atual de extrema divisão no Brasil, as acusações de lado a lado floresceram já na sexta-feira, enquanto a extensão da tragédia ainda nem era definida. Do lado dos governantes, Jair Bolsonaro, por ser o atual mandatário, Michel Temer, por não ter tomado providências necessárias após Mariana. Dilma, pelas mesmas razões que seu então vice e também por causa de um decreto mal redigido e Fernando Henrique, por ter privatizado a Vale há mais de 20 anos, foram nomeados imediatamente. Fernando Pimentel, ex-governador de Minas Gerais, também foi posto na berlinda. É seu estado que foi palco das duas tragédias, e são as mesmas Minas Gerais que hoje preocupam mais, por representar um risco agora confirmado.

Minas possui quase 700 barragens de rejeitos minerais, segundo o Banco de Dados de Barragens da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). E, de acordo com estimativas de órgãos ambientais, entre 300 e 400 apresentam risco de rompimento, e duas dezenas delas não têm, hoje, estabilidade suficiente. Talvez o mais grave neste panorama seja que a do Córrego do Feijão, que cedeu na sexta-feira, não fazia parte desta lista. Este perigo iminente deveria ser prioridade número 1 para as autoridades.

Mas logo aparecem os argumentos econômicos: o setor de mineração representa 10 % do PIB do estado, e emprega direta e indiretamente centenas de milhares de mineiros.

Contrariamente às declarações incisivas dos políticos hoje, a criminosa ausência do poder público num assunto tão importante não é marca de uma ideologia ou de um partido. O PT oposição federal nos últimos dois anos e meio era governo em Minas. E o resultado do descaso é o mesmo. E deveria ser compartilhado. Mas é sempre mais fácil jogar a culpa no outro.

Alvo preferencial e mais indicado por todos, Flávio Schvartzman, o atual presidente da Vale. Assumiu o posto em maio de 2017, ou seja, depois de Mariana, indicando como lema “Mariana Nunca Mais”. Muitos o querem preso já. Outros até lamentam que ele não estivesse no refeitório da Vale que foi varrido pelos milhões de metros cúbicos de lama.

Será Flávio Schvartzman um desses capitalistas ávidos de lucro, pouco se lixando pelas vidas, pronto a qualquer sacrifício para um centavo a mais nos dividendos? Talvez seja, mas aí ele estaria a mando dos acionistas, essas figuras muitas vezes caricaturadas pela extrema esquerda como aproveitadores do trabalho alheio e cegos às misérias dos humanos.

No caso da Vale, segunda maior empresa do Brasil, os acionistas… somos nós. Porque 60% de suas ações estão nas bolsas brasileira e americana. Mesmo que você não tenha uma única delas, seu investimento no banco tem. Ou seu fundo de pensão (o Previ, o fundo dos funcionários do Banco do Brasil é um dos maiores acionistas individuais da Vale). E mesmo quem nem tem um tostão aplicado em banco ainda participa da gestão da Vale, via BNDES, também entre os principais proprietários da companhia, que emprega diretamente 75 mil pessoas no Brasil.

É claro que há de apurar a fundo as responsabilidades de cada um, as culpas se houver, e aplicar as punições. Sabemos que levará tempo. A máquina jurídica da Vale é aguerrida e capitalizada. Os estados, o federal e o mineiro, se defenderão. Como sempre, é a população que pagará e já paga o maior preço. Mas Brumadinho é mais um aviso que não se pode confiar nem nas multinacionais, nem nos políticos, de qualquer ideologia que se reclamem, para ficar atentos aos desafios de século XXI.

Chegou a hora de cobrar políticas efetivas em assuntos que realmente importam. A campanha presidencial e as estaduais de 2018 ficaram no embate político-partidário que deu no que deu. Os temas essenciais não foram abordados, engolidos por um “eles contra nós” sem propostas e sem soluções. Mariana não foi lembrada, o tema não apareceu. E não foi posto pelo eleitorado, nem pela imprensa à altura que deveria. Por isso, temos todos nós uma parcela de culpa pela nova catástrofe.

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