Além do câncer
Próstata atinge metade dos homens com mais de 50
Publicado
emLuiza Pollo
Novembro é o mês de campanha de conscientização pela saúde masculina, com foco na prevenção do câncer de próstata. Enquanto o câncer é motivo de alerta por ser o segundo mais comum entre homens no Brasil de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) – perdendo apenas para câncer de pele não melanoma – as outras doenças da próstata recebem menos atenção.
Uma pesquisa realizada em 2015 pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em parceria com o laboratório Bayer aponta que 51% dos homens nunca havia se consultado com um urologista, alegando principalmente medo ou falta de tempo.
“Nessa rotina do homem de não procurar um médico, muitas vezes é até o urologista, mais tarde, que vai fazer o diagnóstico de outras doenças, como a diabete ou a pressão alta”, afirma Paulo Lages, oncologista do Onco Vida, com foco em tumores genito-urinários.
O cuidado com a prevenção das doenças na próstata exige que as desculpas fiquem de lado. O médico lembra que, a partir dos 50 anos, os homens devem fazer os exames de toque e de sangue (o PSA, antígeno específico da próstata) anualmente. Quem tem histórico de câncer de próstata na família e homens negros, que têm mais propensão a desenvolver a doença, devem começar aos 45.
Ambos os exames também indicam a presença de outras patologias da glândula que são bastante comuns. Uma delas é a hiperplasia prostática benigna (HPB), um aumento no tamanho da glândula, que virou notícia na semana passada quando o presidente Michel Temer precisou ser internado e passar por um procedimento cirúrgico. Ela atinge cerca de 50% dos homens acima dos 50 anos, de acordo com dados da SBU, e sua incidência aumenta ainda mais na faixa dos 90 anos, afetando cerca de 80% dos pacientes a partir dessa idade.
A HBP precisa ser tratada quando a glândula aumenta muito de tamanho e aperta o canal urinário, podendo causar redução no fluxo de urina e consequentemente incômodo para o paciente. Lages indica que, ao perceber dificuldade para urinar, o homem procure um médico. “O tratamento será feito a partir dos sintomas. A tentativa inicial é com remédios, para tentar melhorar o fluxo. Quando isso não é suficiente, é feita uma raspagem, como no caso de Temer”, afirma.
Infecções ou inflamações na glândula, conhecidas como prostatites, também merecem atenção. Apesar de menos perigosas, elas precisam ser tratadas com medicamentos, como antibióticos, explica Lages. O PSA também é um exame indicado para identificá-las.
Nem as prostatites nem a HBP são indicativas de câncer de próstata, informa o especialista. No entanto, ao fazer os exames para identificá-las, o paciente está também se prevenindo do câncer. Ben Sitller, por exemplo, descobriu a doença aos 48 anos. “Se o médico tivesse esperado, como a Sociedade de Câncer Americana recomenda, até eu completar 50 anos, eu não saberia que tinha um tumor em crescimento até dois anos depois de eu ter sido tratado. Eu nunca teria sido examinado, e não saberia que eu tinha câncer até ser tarde demais para tratá-lo com sucesso”, escreveu Stiller em artigo publicado no Medium.
Infertilidade – A próstata é uma glândula com papel importante no sistema reprodutor masculino, pois atua na produção do líquido que transporta os espermatozóides – função essencial na época em que o homem pretende ter filhos. Portanto, problemas na próstata podem também resultar, mesmo que indiretamente, em perda da fertilidade.
Como a glândula é responsável pela produção de parte do líquido que forma o sêmen, ela tem papel importante na ejaculação. “Um tratamento cirúrgico pode causar lesões nos vasos que transportam o líquido, o que reduz a quantidade de sêmen expelido”, explica Giuliano Bedoschi, especialista em reprodução humana.
Uma inflamação muito grave também pode reduzir temporariamente a qualidade dos espermatozóides, afirma o médico.
Já o câncer de próstata não é prejudicial à fertilidade, mas o tratamento sim. “A quimioterapia e a radioterapia atacam as células que produzem os espermatozóides”, explica Bedoschi. O especialista indica que, se o homem ainda desejar ter filhos após o tratamento, pode ser uma boa ideia pensar em congelar espermatozóides ou embriões antes.