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Congresso de Agroecologia

Produtor agrícola quer mostrar que em se plantando, tudo dá

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Maryna Lacerda

Aliar a prática ao conhecimento científico é um dos objetivos do 6º Congresso Latino-americano de Agroecologia, do 10º Congresso Brasileiro de Agroecologia e do 5º Seminário de Agroecologia do DF e Entorno.

Os três eventos ocorrerão de forma simultânea no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a partir de terça-feira (12), e contarão com o relato das experiências de produtores rurais que praticam o sistema agroecológico.

Um dos participantes é o agricultor Heleno Manoel do Nascimento, de 69 anos. Há duas décadas, ele cultiva a lavoura de forma sustentável em uma propriedade no Núcleo Rural Taguatinga, em Samambaia.

No congresso, Nascimento vai contar como foi o processo de transição para o modelo de produção. “Quando cheguei aqui, a terra era branca e seca”, conta o agricultor, ao mostrar o solo vermelho.

Acostumado à lida na terra desde os 5 anos, Nascimento se tornou carroceiro quando veio da Paraíba para Brasília, em 1974.

Quase 20 anos depois, mudou-se para os 6,5 hectares que ocupa na área. “Comecei com porcos e algumas cabeças de gado. Então, me avisaram que não podia ter criação aqui, porque ficava perto do córrego [Taguatinga]”, lembra.

A solução, explica, seria plantar sem causar impacto à área de proteção ambiental. “A Emater-DF [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal] me ajudou muito e, então, comecei com folhagens.” Com o tempo, Nascimento expandiu a produção. “Hoje tem de tudo um pouco aqui: alface, cebolinha, coentro, mileto, feijão de corda, mandioca, limão e café”.

A adesão à agroecologia permitiu ao produtor melhorar a qualidade de vida. “A vida é muito melhor agora. Deixei de ser carroceiro, tenho uma terra para cultivar. Tem sido uma luta, mas uma luta boa”, avalia.

A produção do tomate tem sido referência na propriedade dele. “O pessoal da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] veio me visitar e disse que as plantações por aí estão tomadas pela traça. Querem saber o que eu faço para a praga não atacar”, brinca.

O produtor garante que não tem segredo e que tudo o que faz aprendeu com os extensionistas rurais.

A participação ativa dos agricultores é um dos focos desta edição dos encontros. “Pela primeira vez, os produtores vão expor ao lado de cientistas. A ideia é unir o saber popular ao conhecimento científico”, define o coordenador do Programa de Agroecologia da Emater-DF, Roberto Carneiro.

No caso de Nascimento, a timidez de falar em público será substituída pelo relato do dia a dia no campo. “O que eu posso dizer é como tenho feito aqui. Quem vê tudo pronto não imagina o trabalho que dá”, brinca.

O DF tem hoje 300 produtores que atuam em base agroecológica e 1.130 em processo de transição para o modelo. Além disso, existem 210 agricultores com certificação no território.

Desse total, cerca de 80 produtores também participarão da Feira Agroecológica e da Sociobiodiversidade, durante os dias dos três eventos. Lá, eles comercializarão produtos in natura, da agroindústria e do artesanato — com entrada gratuita ao público em geral.

O horário de funcionamento é de terça a quinta-feira, das 10 às 22 horas. Na sexta (15), a feira abrirá das 10 às 13 horas.

No espaço, dentro do Centro de Convenções, também ocorrerá a feira de troca de sementes crioulas. São variedades adaptadas ou desenvolvidas por agricultores familiares, quilombolas, indígenas ou assentados da reforma agrária.

As sementes são passadas por gerações e representam as comunidades que as produzem.

Outra atividade prevista na programação é o espaço Caminhos do Saber, em que o público percorrerá trajetos relacionados aos 13 principais temas discutidos nos encontros.

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