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Professor tenta ajudar alunos, mas burocracia põe tudo a perder

Incomodado com o calor nas salas de aula em que lecionava em uma escola em Planaltina, o professor de português Davi Moreira decidiu medir e registrar em um documentário as temperaturas alcançadas durante o dia. O resultado impressiona, revela o G1: em uma tarde de outubro, a temperatura no ambiente chegou a 39,9° C – as paredes de cimento chegaram a 49° C.

Preocupado com o rendimento dos alunos, Moreira conseguiu a doação de dez aparelhos de ar-condicionado junto à Receita Federal. O equipamento, no entanto, está desde julho do ano passado armazenado no galpão da escola porque, antes de mandar instalar os equipamentos, a Secretaria de Educação ainda precisa incorporá-los ao patrimônio da instituição.

A secretaria informou que uma vistoria já foi realizada na escola para verificar as condições elétricas e de segurança para instalação do equipamento, mas afirmou que não é possível precisar quando o documento vai ficar pronto.

“Foi durante a aplicação de uma prova, em que os alunos precisaram ficar várias horas na mesma sala, que percebi que eles pegavam a folha de papel, começavam a se abanar, e aquilo chamou a minha atenção. Como um aluno vai conseguir se concentrar para fazer a prova se o ambiente não permite a ele o conforto e a tranquilidade para poder se concentrar?”
Davi Moreira, professor de português

Moreira conta que sempre deu aulas pela noite, mas que, depois que começou a trabalhar à tarde, passou a sentir muito calor. “Transpirava muito durante as aulas, mas achava que era coisa minha”, disse. “Foi durante a aplicação de uma prova, em que os alunos precisaram ficar várias horas na mesma sala, que percebi que eles pegavam a folha de papel, começavam a se abanar, e aquilo chamou a minha atenção. Como um aluno vai conseguir se concentrar para fazer a prova se o ambiente não permite a ele o conforto e a tranquilidade para poder se concentrar?”

Foi neste momento que o professor decidiu comprar um termômetro e anotar diariamente as temperaturas dentro da sala de aula. Ao pesquisar sobre o assunto, ele descobriu que pelas normas brasileiras, um ambiente ideal para a atividade intelectual deveria ter temperatura entre 20° C e 23° C.

Segundo Moreira, o problema das altas temperaturas nas salas de aula do DF se deve à arquitetura e à engenharia padrão das construções. “Quase no geral, usam material de baixa qualidade, devido ao preço. As telhas são de eternit, cimento ou amianto, e, embaixo dessa telha, para não ficar quente demais, colocam um forro de PVC. A telha então aquece muito e passa o calor para o forro, que não deixa sair calor de dentro da sala”, diz.

“Em algumas escolas, você tem calor excessivo na parede. Então tem o aquecimento do teto, da parede, da telha, não tem propagação de ar interno, mais os corpos que estão lá dentro. Ao ligar o ventilador, você tem que tipo de ar? Circula ar quente. E isso provoca vários sintomas, como irritação, sono, perda da concentração, sangramento no nariz. Como é que eu, enquanto aluno, vou me concentrar numa situação dessas?”

A primeira campanha do professor para colocar ar-condicionado nas salas de aula não foi bem-sucedida. “Enviamos 160 bilhetes para os pais dos alunos explicando a situação e pedimos doações de R$ 10 para comprar um aparelho de-ar condicionado. Mas, de todos os bilhetes enviados, só obtive R$ 10. Só um pai fez a doação.”

No fim de 2012, o professor conseguiu, através da Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas, a doação de um aparelho para o Centro Educacional Dona América Guimarães, que chegou a ser instalado. Meses depois, ele foi transferido para o Centro de Ensino Fundamental 04, também em Planaltina, onde voltou a registrar as altas temperaturas nas salas de aula – que chegaram a 36° C em março.

Em maio o professor será novamente transferido para outra escola, sem conseguir ver os dez aparelhos em funcionamento. “Todo o período de pico de calor, julho e agosto, ficamos sem ar-condicionado, que estão parados até hoje. Não há previsão de instalação”, disse.

“Todos os gabinetes e salas dos diretores têm ar-condicionado, sem exceção, mas para os alunos, não. Não deveria ser assim. Se eu tiver um aluno em um ambiente propício, ele vai dar um resultado muito melhor e vai ter maior aprendizagem”, disse.”

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