O servidor público Silvo Gois de Alcântara, de 44 anos, recebeu a labradora Bia em sua casa há quase três anos. Ela é o seu terceiro cão-guia e o proporciona melhor qualidade de vida e mais autonomia e segurança para se locomover. “A mudança de vida com o cão-guia é muito significativa em todos os sentidos”, disse ele nesta quarta, 25, dia em que é celebrado o Dia Internacional do Cão-Guia.
Alcântara tem deficiência visual severa. Ele foi diagnosticado ainda criança com uma doença degenerativa que leva à cegueira total e há mais de 20 anos teve a queda mais intensa na capacidade de enxergar. Sempre usou bengala para se locomover, até que em 2002 recebeu o Vircan, seu primeiro cão-guia, que já morreu. Depois veio a Naná, já aposentada, mas que ainda vive com a família de Alcântara, e hoje conta com o auxílio da Bia.
A principal mudança, segundo ele, é na locomoção, já que o cão-guia é treinado, por exemplo, para localizar escadas, entradas e saídas e faixa de pedestres, além de desviar de todos os obstáculos, em qualquer nível de altura. “Quando eu pego o equipamento, ela já vem saltando e quer sair com a gente”, disse.
Além de melhorar a locomoção, o cão-guia ajuda na socialização do deficiente visual. “Nós temos muito mais interação com a sociedade, as pessoas se aproximam, conversam”, disse, contando que já passou por situações em que estava com a bengala e foi ignorado e já com o cão-guia recebeu a atenção devida.
O servidor faz parte do Projeto Cão-guia de Cegos do Distrito Federal, da Associação Brasiliense de Ações Humanitárias. Criada em 2001, já entregou 51 cães-guia no Distrito Federal e em outros estados do país. O projeto conta com um centro de treinamento em parceria com Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, além de outros apoiadores.
A coordenadora do projeto Lúcia Campos disse que o principal desafio ainda é conseguir recursos. “O projeto só existe porque tem excelentes parcerias”, disse. O custo para formar um cão-guia, segundo ela, chega a R$ 40 mil. A entidade não recebe nenhum tipo de financiamento público e, além das parcerias, vive de doações e das ações da Associação Amigos do Cão-guia.
O treinamento de um cão-guia não é simples e dura cerca de oito meses. Antes disso, eles passam por um período de socialização, aproximadamente por um ano e meio, com as chamadas famílias hospedeiras. Elas têm a responsabilidade de levar os cães aos mais diversos locais para que eles conheçam o mundo no qual estarão inseridos ao guiar as pessoas com deficiência visual, como shoppings, restaurantes, ônibus, metrô, praças e escolas.
Lúcia Campos conta que hoje no DF existem dez filhotes em socialização e sete cães em treinamento. Segundo ela, há em torno de 150 cães-guia em atividade no país, para um público enorme de pessoas com deficiência visual. Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, há no país mais de 6,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual severa, sendo que 506,3 mil se declararam cegas.
“É um trabalho que aqui no Brasil tem muitas dificuldades. A falta de recursos é muito grande mesmo”, disse, ao defender a concessão de incentivos fiscais para as empresas e pessoas físicas interessadas em apoiar esse tipo de projeto.
Em 2005, foi sancionada a Lei 11.126 que fala sobre o direito do portador de deficiência visual de entrar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado do cão-guia. A coordenadora alerta, entretanto, que as pessoas precisam respeitar o animal. “Quando o cão está trabalhando não chame atenção, se alguém tirar a atenção do cão-guia pode colocar o deficiente visual em risco. Isso é muito importante. Ele é fofinho, mas está trabalhando”, disse, explicando que, caso o responsável pelo cão autorize e tire a guia do animal, aí sim ele está livre para brincar.
Quem tiver interesse em ter um cão-guia deve entrar em contato pelo e-mail caoguiadf.cadastro@gmail.com. Para quem tiver interesse em ser voluntário ou se tornar família hospedeira, o e-mail de contato é ocaoguiadf@gmail.com. Na página do Projeto Cão-guia de Cegos DF, no Facebook, também é possível acompanhar as ações do projeto e como fazer doações.