Douglas Correa
Atingido por mais de 40 tiros, num confronto entre policiais e traficantes, o projeto Aquário de Música, da ONG Rio de Paz, inaugurado no sábado passado (19), na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, está ameaçado de fechar as portas antes mesmo do início das aulas que seriam ministradas a cerca de 50 crianças e adolescentes carentes da comunidade e outras de fora.
As crianças receberiam cursos de qualificação profissional e noções de música de instrumentistas renomados que tocam com vários artistas do Rio e ensinariam de graça. Mas, hoje (21) pela manhã, a sede do Aquário de Música, no lugar conhecido como Garganta do Diabo, um antigo local de desova de corpos, perto do Campo do Abóbora, foi atingida por disparos principalmente de armas pesadas, como fuzil e metralhadora, numa troca de tiros entre policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho e traficantes de drogas que ainda agem na região.
De acordo com o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, o local recebeu o nome de Aquário por ser todo envidraçado e para que os pais e responsáveis pudessem assistir as crianças tendo aulas com os mais diversos instrumentos, como bandolim, violoncelo, violão e instrumentos de percussão, entre outros. “O espaço foi construído em dois anos, sem nenhum dinheiro público, apenas com doações de empresários e da sociedade civil”, segundo o presidente da ONG.
Antônio Carlos contou ainda, que a sede da Rio de Paz, na Rua do Rio, a 200 metros do Aquário de Música, foi atingida, de dezembro para cá, por seis tiros e o aquário por uma granada. Ele preferiu não falar nada, “porque pensou que se tratava de um caso isolado”.
O prédio do projeto Aquário de Música, ao ser erguido, manteve nas paredes laterais as marcas de tiros da guerra do tráfico, sem cobrir os buracos de balas nem pintar as paredes para mostrar o que acontecia naquele lugar, revela
Costa.
O presidente da ONG Rio de Paz disse que amanhã (22) será realizada uma reunião extraordinária para decidir se o projeto Aquário de Música vai continuar ou será suspenso, “porque o risco é real”. Antônio Carlos Costa disse que chegou a informar aos convidados que participariam da inauguração do projeto, no último sábado, sobre os riscos a que as pessoas estavam expostas e “muita gente desistiu de comparecer à inauguração”.
A Unidade de Polícia Pacificadora do Jacarezinho foi inaugurada em 16 de janeiro de 2013 e atende a mais de 36 mil habitantes, segundo dados do Instituto Pereira Passos (IPP), órgão da prefeitura do Rio. O Complexo do Jacarezinho é formado por um conjunto de favelas, que, devido ao tamanho, acabou se transformando em bairro.
A comunidade do Jacarezinho é servida por uma estação ferroviária da Supervia e, nas suas imediações, passam importantes eixos viários da cidade. É de caráter plano e integra ruas, avenidas e uma estação ferroviária de igual nome. Comunica-se com outra favela próxima, a de Manguinhos.
Agência Brasil