Recentes movimentos de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional sinalizam a construção de alianças para mantê-lo no cargo de presidente da República, neutralizando um eventual processo de impeachment. As articulações impactam a dança de cadeiras de sustentação no Congresso Nacional, com a aproximação de setores fisiologistas que já desempenharam o papel de rede de sustentação do ex-presidente Michel Temer.
A guinada política foi provocada pela briga interna de setores que sustentam o bolsonarismo, visando obter maior influência junto ao presidente. Entretanto, o afastamento do governo de setores mais radicais não pode ser visto como uma mudança do projeto de poder bolsonarista.
O grupo segue se baseando na difusão e multiplicação de notícias imprecisas ou falsas na rede internet com o intuito de angariar apoio e tem como objetivo pôr em marcha o plano de desqualificar a democracia e relativizar os direitos humanos, além de aniquilar forças progressistas e vozes que criticam o atual ocupante do palácio do Planalto.
A dimensão social do bolsonarismo vai além dos ataques corriqueiros aos órgãos de imprensa e a subjugação do regime democrático. Entre seus seguidores, é comum a depreciação de órgãos que não validam atos autoritários de Bolsonaro, não importando a consequência futura dos mesmos. Para eles, a figura caricata do presidente é entendida como a de um messias que salvará o país da corrupção, adotando valores ultraconservadores como projeto permanente de poder.
Trata-se de um conceito perigoso, cujos efeitos podem trazer feridas difíceis de serem curadas pela sociedade brasileira. O campo de visão do núcleo político já almeja as eleições de 2022.
Projeto de poder
A presença de Bolsonaro em um eventual segundo turno na próxima votação dependerá da aproximação de redutos eleitorais foi derrotado em 2018. Nesse sentido, ele busca dividendos eleitorais em cima de medidas às quais ele era contrário, como o auxílio emergencial, a prorrogação do FUNDEB e de obras de infraestrutura das quais não nutria simpatia.
A nova roupagem presidencial busca mudar sem transformar, ou seja, mantém-se o âmago das ações de governo, com a autorização constante de destruição ao meio ambiente, a expansão do armamento individual e o desrespeito aos direitos humanos.
A tônica de sua nova versão não se desconecta da de seus seguidores, que fortalecem as críticas aos demais poderes e entes federativos, propondo o retorno ao Estado de exceção, como forma capaz de manter o presidente e, assim, solucionar os graves problemas nacionais segundo a ótica totalitária.
A atual circunstância preocupa em âmbito interno e externo. O projeto de poder bolsonarista não encontra paralelo dentre as nações, por isso o distanciamento diplomático pode aprofundar o desejo dos apoiadores do presidente de demonizar a democracia e, assim, instaurar o terror e a desavença entre os brasileiros.
Somente neste quadro de balbúrdia o apoio às forças governistas ganha escopo, visto que seu líder se mostra incapaz de gerir a cordialidade e a manutenção do Estado democrático de direito, ao qual prestou juramento ante o Congresso no momento em que, pela via da democracia, assumiu a direção do Brasil.