O ditado “quem não tem cão, caça com gato” se encaixa como uma luva de pano de prato na crise vivida pelos extremistas que adoram farda. Não era um declínio anunciado, mas a decadência sem cesariana passou a ser percebida a olho nu depois que o piau virou lambari, mais precisamente desde que Xandão matou a cobra e mostrou o pau. De lá até hoje, início de 2025, o barco pra lá de obsoleto do conservadorismo fez água e já começa a obrigar o comandante a pensar em dividir o leme. Para alguns, ele deve passar o guidão definitivamente. Talvez seja apenas uma questão de tempo.
Sinônimo de incerteza, a dúvida é saber quem receberá o quepe de capitão. A indecisão está posta, mas como tudo é somente uma questão de governabilidade, muita água ainda deve rolar pelo oceano político do Brasil. Por enquanto, o que se sabe é que o céu de almirante e o mar de brigadeiro não estão mais para raia sem ferrão, tampouco para gavião de bico quebrado. Do outro lado da margem, o caldeirão ferve em banho maria, mas o fogo não se apaga. O fato é que, nessa altura da tempestade, poucos ainda topam embarcar em canoa furada ou com remendos mal costurados.
Na verdade, sem um nome com força e capacidade de recuperar o casco da embarcação, a solução inicial é improvisar e usar o que se tem à mão. E o que se tem a mão é a duvidosa musicalidade de um peão cujo único exercício é correr atrás do dinheiro. Como os mistérios sempre pintam por aí, a turma do atraso não parece disposta a deixar de causar e a parar de provocar. Tanto que decidiram pintar o 17 de verde sertanejo, colorir o 22 de amarelo caipira, descer abaixo do nível da piçarra e que seja o que Deus quiser. Tentando repetir a lenda do mito e do canto mágico do uirapuru, a rapaziada da profecia do patriotismo resolveu avançar na lua pensando que é queijo.
Para isso, fecharam os olhos e, sem preocupação com os de pouca simpatia pela causa tabaréu, se enrodilharam nos ecos dos gritos esganiçados da cacatua que adora fazer ninho em dólares, euros e libras. Pior é que, mesmo com o canto lírico idêntico ao de um rouxinol com câimbra, a cacatua quer cobrar cachês mais polpudos do que os de Paul McCartney, Bob Dylan, Bruno Mars, Beyoncé e Taylor Swift, entre outros. É muita ousadia pensar nessas cifras e desassombro acima do permitido se achar com cacife para disputar o comando político do país.
Ensimesmado e despombalizado com a hipótese de um dia ser governado por Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Marrone, mudo o dial só de imaginar o Brasil enfiado em um cenário do tipo cowboy. É aí que a ironia ocupa o lugar da paciência. Taquilpa! Defendê-los é atiçar a fogueira da covardia escondida detrás de ideologias extremistas criadas para doutrinar inocentes e arregimentar adeptos para fantasias de ocasião. Para esses tipos, o inferno normalmente são os outros. Eles são o céu, as estrelas e, se não houver percalços pelo caminho, o paraíso. O problema é que a caminhada até o inferno está pavimentada de supostas boas intenções. O mar está revolto.
Sei que pode ficar pior, mas, após a fracassada ascensão daquele que foi sem nunca ter sido, qualquer cidadão que saiba pelo menos abanar o rabo no sol do meio-dia se acha em condição de ocupar a cadeira mais poderosa da nação. Será o início de uma nova semeadura ou o fim dos tempos? Nossa sorte é a eficácia daquele velho ditado que diz que quem nasceu para tiririca do brejo sempre se imaginará um lírio do campo, talvez da família da rosa mosqueta, mas jamais será um girassol. No máximo um mandacaru do sertão ou, com algum sacrifício, um Acanthospermum, o popular carrapicho. O que desejo óbvio do candidato em questão é chegar ao Senado, onde conseguiria a tão sonhada imunidade. Como todo castigo para corno é pouco, pode ser.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras