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Clichê antigo

Propaganda pífia do governo pode impedir caminhada para o Lula4

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

A expressão “a propaganda é a alma do negócio” é um clichê antigo, batido, mas ainda bastante funcional. Qualquer menino do Maternal I sabe que só ganha a briga quem grita mais alto. Didaticamente, a propaganda é a comunicação persuasiva. É a velha e funcional estratégia destinada a influenciar as atitudes, opiniões, emoções e os sentimentos do público que se quer atingir. É por meio dela que todo cidadão, empresa ou organismo público vende seu produto e, principalmente, o que ele representa. Na lei do convencimento, o argumento número zero é a persuasão. É o que inexiste na administração de Luiz Inácio. Mantido esse pífio esquema de comunicação, o presidente terá dificuldade de caminhar até 2026.

Até agora, o presidente não tem conseguido mostrar ao eleitorado que, apesar de todos os adjetivos recebidos, sua genética política ainda é a menos prejudicial ao futuro do país. Bem ou mal, todo o Brasil conhece Lula da Silva. O problema é que poucos sabem o que ele está fazendo pelo país. Eu, por exemplo, estou convencido de que o governo Lula está muito aquém das promessas de campanha. Posso estar enganado, mas como me convencer de que ele é melhor do que aquele que mentiu à exaustão para chamar a atenção da população? Chamou demais. Tanto que, esquecendo o que realmente importava, perdeu a essência nesse mundo onde as ilusões normalmente duram somente um verão. No caso específico, durou dois verões, dois invernos e uma pandemia do tipo gripezinha.

Esse foi o lado inverso da propaganda. Com apoio direto de Joe Biden, cuja lábia desmontou a montagem do golpe em 2022, Lula está aí para continuar contando sua história. A desconstrução da imagem de um suposto mito foi mais rápida do que sua construção. Antes do fim, brasileiros simpáticos à tese do quanto pior melhor perceberam que a pessoa que admiravam era somente uma ótima embalagem com uma propaganda enganosa das boas. Ele extrapolou, mas, no resumão da alma do negócio, jamais temeu o fato de alguém achar que suas propostas eram mais negócio do que alma. Democrata e mais preparado para gerenciar uma nação de divergentes, Lula da Silva sabe que não se comunicar é sinônimo de se trumbicar e de cair no esquecimento.

Sabe tanto que, ao participar semana passada de um seminário do Partido dos Trabalhadores, reclamou veementemente de sua comunicação oficial com o povo e com a relação dos dirigentes da sigla com as bases. Sem meias palavras, o presidente deixou claro que a militância petista está ao Deus dará. Carnavalesco de outros carnavais, Lula tem consciência de que aquele que não é visto não é lembrado. É o caso do seu governo, no qual a pimenta só arde onde a pimenteira quer. O líder máximo da legenda reconhece o amadorismo de seus “comunicadores”. É fato que eles não estão informando adequadamente à população o que o governo já fez nesses quase dois anos de gestão. A percepção e a reclamação de que a pimenteira não arde mais não são novas.

Faz tempo que Luiz Inácio cobra dos ministros e dos dirigentes de autarquias, fundações e similares o repasse de seus feitos para Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) divulgar. Obviamente que o cenário continua o mesmo. Talvez pior. Será falha dos colaboradores do presidente ou da própria Secom? Pouco importa de quem seja a falha. Importante é que aos olhos de Lula os adversários da extrema-direita, também conhecidos por “patriotas”, nadam de braçada nas redes sociais. A internet hoje é muito mais usada para achincalhar a democracia e muito menos para informar à sociedade sobre as políticas públicas do governo federal. No conceito dos filósofos, ganha a guerra quem melhor se prepara nos bastidores. É a suprema arte de derrotar o inimigo sem lutar.

Para isso, a lição número um é não confiar na possibilidade de que o adversário não venha, mas na prontidão para recebê-lo. Nada mais óbvio. Mandatários, políticos e concorrentes têm a obrigação de acreditar sempre que o concorrente (ou inimigo) está por vir. Atualmente, nem os sertanejos esperam pelo tempo bom. Eles correm atrás de alternativas capazes de solucionar seus problemas climáticos. É o que Lula precisa fazer. Depois de tornar público que seu governo está desalmado, isto é, sem a alma do negócio, chegou a hora de secar de vez a pimenteira e acreditar que o sucesso de seu governo depende 10% de amizade e 90% de profissionalismo. São muitas emoções já vividas. Entretanto, 2026 bate à porta. E sem a atitude do chefe da Secom, dificilmente Lula conseguirá despertar a curiosidade do eleitor nativo a respeito da seriedade, da alma e da qualidade do negócio propagado pelo governo do PT. Ou seja, ou informa ou será desenformado.

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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