Enquanto todas as atenções estão voltadas para o julgamento do dia 24 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que pode tornar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inelegível, a equipe do petista tenta dar ares de normalidade à pré-campanha de Lula à Presidência. Segundo fontes do partido, a primeira minuta da nova Carta ao Povo Brasileiro deve ficar pronta nesta sexta-feira, 19, e será apresentada em 26 de fevereiro – quando o PT completa 37 anos -, seja qual for o resultado do julgamento em Porto Alegre.
O responsável pela elaboração da minuta é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador-geral do programa de governo de Lula. Ainda nesta sexta ele deve entregar a versão inicial da carta aos ex-ministros Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, que compõem o grupo mais próximo do ex-presidente na corrida pelo terceiro mandato no Palácio do Planalto.
Paulo Bernardo e Mercadante devem fazer ajustes no texto, cujo conteúdo é fruto de meses de discussões entre economistas e acadêmicos que se reúnem semanalmente na sede do Instituto Lula, na capital paulista. Antes de ganhar a redação final, no entanto, a carta ainda passará pelo crivo do próprio ex-presidente.
A ideia do PT é apresentar o texto no aniversário do partido. Com isso, a sigla espera também passar uma imagem de normalidade, mesmo que a pena de 9 anos e 6 meses imposta a Lula pelo juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, seja mantida pelo TRF-4, o que tornaria Lula inelegível. Lula foi condenado na Operação Lava Jato em julho do ano passado, na ação penal relativa ao caso do triplex do Guarujá (SP).
Prazos – A estratégia do partido é tentar minimizar os efeitos do julgamento do recurso de Lula em Porto Alegre e argumentar que a disputa jurídica pela elegibilidade do petista só começa para valer no dia 15 de agosto, quando se encerra o prazo para o registro de candidaturas, e se dará no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ao contrário da Carta ao Povo Brasileiro de 2002, feita para acalmar o mercado financeiro receoso diante da possibilidade da primeira eleição de Lula, o texto de 2018 será voltado para a classe média, especialmente para o eleitorado que já votou no PT, mas agora culpa a gestão da presidente cassada Dilma Rousseff pela crise econômica e associa o partido aos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato.
O conteúdo da carta é mantido em sigilo absoluto, mas, segundo petistas graduados, um dos eixos é desassociar Lula do desastre econômico ocorrido durante o governo Dilma.
O petista também quer mostrar que, embora o contexto político e econômico seja muito diferente de 2002, a responsabilidade com a condução econômica é um princípio pessoal. Para isso, Lula vai listar fatos de seus dois governos, como os seguidos superávits fiscais além da meta, trajetória de queda da dívida pública, obtenção do chamado “grau de investimento”, recordes de valorização de ações na Bolsa e aumento das reservas cambiais.
Mercado – De acordo com assessores próximos do petista, como o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, depois de oito anos de mandato na Presidência com bons resultados na economia e demonstrações de rigor fiscal, segundo eles, Lula e o PT não precisam mais provar ao mercado financeiro seu compromisso com a responsabilidade econômica.
Em conversas com colaboradores, o ex-presidente tem se referido à ideia do documento como “uma Carta ao Povo Brasileiro, só que para o povo brasileiro mesmo”.
Entrevista – Em entrevista, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, falou sobre a relação entre o mercado financeiro as eleições:
A opinião do mercado financeiro é relevante para definir a eleição?
O mercado existe, tem que considerar a existência dele, mas não se pode desenhar as políticas a partir das suas premissas. O candidato não deve ficar se jogando de joelhos diante do mercado financeiro.
Seria importante Lula elaborar uma carta para o mercado caso venha a ser candidato?
Acredito que ele fará uma carta para o povo, explicando que deseja o desenvolvimento do Brasil. Não estou ajudando na elaboração da carta. Se me pedirem ajuda, darei palpite. É melhor que os candidatos digam o que pensam.
Qual a expectativa do senhor para o julgamento do ex-presidente?
Eu acho que não vai ter nenhuma decisão definitiva. Eles vão, prudentemente, encaminhar isso de outra maneira, para não aumentar a confusão.