Era 1976 quando Osvaldo Cavignato, um jovem assessor do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luiz Inácio Lula da Silva, sugeriu a este: “Hoje há uma palestra na Fundação Santo André, para minha turma de economia, do Professor Eduardo Matarazzo Suplicy, que escreve na “Folha de S. Paulo”. Você gostaria de assistir?”.
Lula aceitou e lá ouviu minha palestra sobre como a política econômica brasileira, embora promovesse o crescimento, era acompanhada de forte concentração de riqueza. Observei para os estudantes que, quando responsáveis pela política econômica, deveriam não apenas dialogar com os empresários, mas também com os trabalhadores afetados por suas decisões. Ao final, Lula fez diversas indagações.
O professor ficou preocupado: “O que dirá o diretor da faculdade na hora que souber que aqui está um perigoso líder sindical?”. Lula achou melhor se ausentar, eu acabei de responder as perguntas e quando saí da sala encontrei Lula, Devanir Ribeiro e Osvaldo no pátio. Ali, conversamos bastante e Lula então me disse: “Venha lá no sindicato para conversarmos mais”.
Daí para frente fiz uma série de visitas e troquei ideias sobre tudo que acontecia. Em 1978, quando tornei-me candidato a deputado estadual pelo MDB, perguntei aos metalúrgicos se poderia distribuir meu panfleto chamado “um candidato necessário” na porta de fábrica. Responderam-me; “Você nos acompanhe às 5h30 da manhã, ajude-nos a distribuir a “Tribuna Metalúrgica” e daí distribui o seu”.
Em 1978, lancei diante da Livraria Brasiliense, no calçadão da Barão de Itapetininga, meu livro de artigos “Compromisso”. Organizamos um diálogo com 3 cadeiras na rua – Lula, eu e o secretário do Sindicato dos Padeiros, Afonso de Souza, conversando com o povo. Segundo o diretor do sindicato, Osvaldo Bargas, aquela foi a primeira vez que Lula elaborou a ideia da formação do Partido dos Trabalhadores.
Como deputado estadual, empenhei-me para estar sempre solidário ao direito de os trabalhadores – metalúrgicos, lixeiros, professores etc – realizarem seus movimentos de reivindicação. Também pela defesa dos direitos humanos, por exemplo, quando ocorriam abusos contra os menores na Febem.
E na luta pelas Diretas Já para prefeitos, governadores e presidente. Quando 13 metalúrgicos foram presos e indiciados na Lei de Segurança Nacional, fiz entrevistas com cada um deles e um pronunciamento de solidariedade aos mesmos na Assembleia Legislativa.
Em 1979, tendo o presidente Ernesto Geisel extinto a Arena e o MDB, os líderes sindicais e intelectuais convidaram a mim e a mais cinco deputados estaduais para participarmos da fundação do PT. Por conversas, telefonemas, cartas – não havia a internet – perguntei aos que haviam votado em mim: “O que vocês acham de eu ingressar no PT?” 85% dos que me responderam disseram: “É o que esperamos de você”.
Em 10 de fevereiro de 1980 participei da fundação do PT, no Colégio Sion. Senti afinidade com os objetivos que estavam expressos no seu estatuto e nas palavras de seus fundadores de lutarmos por um Brasil justo, que viesse a dar voz e vez a tantos brasileiros que por tanto tempo estiveram distantes de participar das decisões e dos frutos do desenvolvimento. Queríamos construir uma sociedade mais igualitária através de meios democráticos e pacíficos, e que a ética, a transparência e a correção nos atos da administração pública eram fundamentais.
Ao longo desses 35 anos, o PT contribuiu muito para que avançássemos em direção àqueles ideais. Foram muitas as administrações municipais, estaduais e federal nas quais marcamos tentos notáveis como a prática do orçamento participativo, os programas de renda mínima relacionados às oportunidades de educação que se tornaram o Bolsa Família, os CEUS, o Pronatec, os Mais Médicos e tantas outras marcas que combinaram crescimento com maior inclusão social.
Infelizmente, porém, surgiram procedimentos em nossas hostes que preocuparam sobremodo e, com toda razão, ao povo e a todos que esperavam de nós um comportamento exemplar, até porque sempre fomos muito exigentes com aqueles aos quais fazíamos forte oposição.
Diante de episódios tais como os que foram objeto da Ação 470 e mais recentemente da Operação Lava Jato, que tanto prejudicaram a Petrobras, urge que façamos uma renovação profunda no PT, tal como propugnada pelo ex-governador Tarso Genro. Precisamos tomar todas as medidas que contribuam para prevenir e corrigir os erros que aconteceram para que não mais se repitam. Só assim vamos restabelecer a confiança que a maior parte do povo brasileiro depositou em nós por diversas vezes.
Eduardo Suplicy