Ricardo Galhardo
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu a abertura de um processo interno para tratar das denúncias de corrupção contra petistas importantes como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, que cumprem prisão preventiva em Curitiba.
É a primeira vez que o dirigente máximo petista defende a apuração de atos ilícitos de filiados graduados desde a eclosão da Operação Lava Jato, em março de 2014. “(O PT vai discutir internamente as acusações), como já fez em vários casos, alguns deles inclusive resultando em expulsão”, disse Falcão, que deixa o comando da sigla no primeiro semestre do ano que vem.
Veja trechos da entrevista
De que forma o PT vai fazer oposição a Temer em 2017?
Eles deram o golpe com duas promessas para a população: acabar com a corrupção que eles atribuíam ao PT e recuperar a economia no curto prazo. Não fizeram nem uma coisa nem outra. Então é preciso dar um fim neste programa recessivo com a substituição do governo. É por isso que nós temos dito, e isso tem tido eco na sociedade, que é preciso antecipar as eleições.
Desde 2014 muita gente já alertava para o risco de crise, mas o PT manteve o modelo e reelegeu Dilma com discurso de que estava tudo bem. O PT mentiu ou foi incompetente?
Eles dizem que o problema do País foi a gastança. Na verdade os problemas foram a “desonerança” e a queda da arrecadação. Tenho números oficiais que mostram como os gastos gerais evoluíram nos governos FHC, Lula e Dilma. No segundo mandato de FHC foram 3,9% do PIB, no primeiro de Lula 5,2% e no primeiro de Dilma 3,8%. Nos gastos com pessoal o primeiro governo de Dilma teve uma redução de 0,3% enquanto nos Estados aumentou 5,5% ao ano. O equívoco do segundo governo Dilma foi iniciar o mandato vendo a crise e apontando para um diagnóstico incorreto a meu ver de solução, querendo dialogar com o mercado que já estava embarcando em outra canoa.
Explique melhor a proposta do PT de um processo Constituinte
Nos momentos de grave crise costuma existir um pacto das forças políticas para convocar uma Assembleia Constituinte. Não acho que existem condições hoje para isso, mas há clima, sim, para dentro da convocação de eleições, construir um processo que possa levar à uma Constituinte.
Por quê? A Constituição de 1988 não é suficiente?
A Constituição já recebeu mais de 30 ou 40 emendas. E além disso está sendo destruída sem uma Constituinte. Está sendo destruída na prática como é o caso da PEC 55. Você se vale da correlação de forças atual em um governo ilegítimo para desmontar o que foi construído durante décadas.
O tipo de relação que Lula manteve com empreiteiras incomoda o partido?
Não. A relação que ele teve com as empreiteiras é pública. Ele ajudou de forma legítima para que estas pudessem ter contratos no exterior gerando empregos e divisas para o Brasil. Fez palestras para essas empresas, todas declaradas e comprovadas.
O senhor e o PT têm dito que não existe plano B para a Presidência da República, o nome é Lula. Mas Lula corre o risco de ficar inelegível. O que o PT vai fazer neste caso?
A melhor maneira de tentar barrar essa interdição é colocar publicamente para a população a pré-candidatura do Lula com um programa de reconstrução da economia nacional. Porque assim ficará muito claro para a população qual o objetivo dessa perseguição. Aí não será mais um eventual pretendente. Será a interdição de alguém que se coloca publicamente como candidato.
Ao longo dos governos Lula e Dilma o PT abriu mão de bandeiras históricas em nome da governabilidade.
Isso é uma coisa que nós devemos mudar. Não é possível mais aceitar rebaixar o programa, um programa histórico, avançado, para eventualmente conquistar votos. O PT tem que se aplicar mais na disputa de ideias na sociedade.
O PT se acomodou no poder?
Em vários momentos nos adaptamos ao sistema como quando, por exemplo, sempre termos combatido o financiamento empresarial, nos beneficiamos dele.
Vocês vão insistir para que Lula seja presidente do PT?
Sim. Ele está sendo parcialmente convencido. Por exemplo, uma das alternativas que ele havia sondado para dirigir o partido era o Luiz Marinho, que já se posicionou que quer ser candidato a presidente do PT de São Paulo.
Muita gente no PT defende que o partido faça uma autocrítica pública em relação aos erros cometidos nos últimos anos.
Precisa ver o que necessariamente é autocrítica e para quem você faz. O reconhecimento de que há várias práticas equivocadas no interior do PT a gente tem que corrigir internamente. O congresso é o momento para dosar e medir que tipo de balanço você faz.
O PT vai punir casos individuais de corrupção?
Nós vamos avaliá-los a nosso próprio juízo dado o processo de parcialidade que tem na Justiça brasileira hoje.
Como?
Primeiro, em relação a quem está preso, nós não queremos agravar a situação de ninguém instituindo um tribunal para julgá-los agora. Segundo, temos mecanismos internos, comissão de ética, uma corregedoria, para avaliar comportamentos de filiados dentro das nossas regras com direito de defesa, contraditório, no devido processo legal do PT. Nós não aceitamos, na conjuntura atual como foi o mensalão e Lava Jato, um processo de julgamento enviesado e viciado.
José Dirceu e Palocci, por exemplo, devem ser submetidos aos mecanismos internos do PT?
Vamos dar o direito de defesa a todos companheiros que são acusados sem provas, através de delações, de terem comportamento incorreto. Não só a Zé Dirceu e Palocci.
De que jeito?
Ouvindo, permitindo que eles se manifestem, porque na condição que eles estão hoje não têm como fazer isso.
Mas o partido vai ouvir só a defesa ou eles serão avaliados de uma forma crítica?
Sim. Eles terão oportunidade de se manifestar e nós vamos ouvi-los como em todas as averiguações internas que se faz.
Em qual instância? Comissão de Ética?
Ou na Comissão de Ética ou mecanismos que o Congresso do partido venha propor. Tenho visto várias propostas em andamento de que façam uma ampla audiência. Tem proposta inclusive de submeter isso depois a entidades internacionais para mostrar a amplitude dos nossos processos.
Então o PT vai discutir estes casos?
Sim, como já fez em vários casos, alguns deles inclusive resultando em expulsão.