Neologismos muito distantes do meu vocabulário menos contemporâneo, os termos palhaçaria e contação de história passaram a fazer parte do parco conteúdo literário que utilizo desde o início daquele governo que fez das lorotas o principal meio de convencimento dos seus eleitores raquíticos de conhecimento político. Roteiro de qualquer programa humorístico ou comédia sem produção, a administração daquele presidente sem nexo e sem sexo parecia uma casa de lenocínio de beira de estrada, gerenciada por uma louca e assexuada sexagenária, mas comandada com mãos de ferro por uma guarnição de apetrechados soldados de “puliça”. Na tal casa, ninguém sabia o que fazer, poucos cumpriam com suas dadivosas tarefas, mas todos queriam ganhar.
E, de acordo com os homens da capa preta e com os tiras da Federal, incluindo o Japonês, a turma ganhou muito. Tanto que acabaram se perdendo pelo caminho. Ficaram sem mandato, sem as jóias e as pedras preciosas e, tudo indica, também ficarão sem liberdade. Em decorrência do amadorismo na contação de estapafúrdias histórias e da forma como se imaginaram donos do poder, o pessoal da lei chegou neles com três golpes mortais: o voto, a autoprodução de provas e a entregação, também conhecida nos meios jurídicos por delação premiada. Contaram abusivamente e terminaram escandalosamente contados.
Para quem sofreu com a jornada à base de cloroquinas, ivermectinas e outros vermífugos menos afamados, o circo fechou por indisponibilidade de artistas. Algo como os velhos filmes de faroeste, nos quais o fim começava a se desenhar quando, após a morte de 99,9% do elenco, sobrava apenas o ator principal. O The End era a sequência do tiro de misericórdia no mocinho, normalmente um vilão enrustido e cuja verdadeira identidade só era anunciada no encerramento da película, mais precisamente na subida dos créditos via PIX do conjunto de atores, atrizes, diretores, produtores e demais integrantes da obra cinematográfica.
O circo está sem lona, sem grama, sem grana e, principalmente, sem o ilusionista da trupe, aquele que enganou até o camarada Vladimir Putin. Mesmo morto, enterrado e inelegível, o mágico do Solar de Brasília ainda mantém a fantasia de espantalho. É com ela que, apesar da tremedeira geral, ele mantém ativos (ou seria passivos) os operadores de áudio, contrarregras e seguradores de pau do coliseu montado a partir do Palácio do Planalto. É claro que alguns mudaram de lado e hoje ocupam cargos de expressão nacional na arena comandada pelo homem barbado e pela mulher Janja.
Também sobraram aqueles que optaram pela montagem de um parque de diversões em um local pouco aprazível e recheado de obstáculos ideológicos, partidários e econômicos. Criaram uma comissão golpista para apurar o golpe, para distribuir novas fake news e para tentar lacrar na internet. Ou seja, a proposta era obviamente golpista. Até os ratos saudosos dos acampamentos patrióticos do pós-derrota de 30 de outubro sabiam que a real intenção do espetáculo era tentar desestabilizar o novo dono do Circo Brasil. Com maioria de artistas mambembes, deram com os burros n’água.
Atiraram no próprio pé, geraram a prisão de aliados fardados com farto conhecimento da podridão do picadeiro e da coxia e deu no deu: transformaram a CPI do 8 de janeiro em um grande culto evangélico sem pastores e sem dízimo. Como os soldados e coronéis de “puliça” pediram folga da casa de lenocínio e hoje estão presos e à disposição do comandante da Brigada da Lei Acima de todos, é bem provável que, em breve, aquele famoso jargão policial seja aplicado pelo xerife sem grampo no couro descabelado ao chefe do setor de produção da fábrica de minutas golpistas contra a Terra Brasilis: Teje preso.
*Wenceslau Araújo é jornalista