Lindo por natureza, encantador para turistas, riquíssimo para desbravadores externos, celeiro agrícola e de craques de futebol, terra do samba, mas Casa de Mãe Joana para os vendilhões da pátria, os chamados “patriotas”. Esta é a definição sintetizada daquele país tão tão distante, no qual, apesar dos prazeres da alma, do físico e da carne, nem tudo foi alegria por bom tempo. Temos a companhia diária do deus grego Dionísio, o mesmo Baco para os romanos, filho de Júpiter e de Sêmele, mas já sentimos nos infernizando o desprazer da embriaguez subjetiva de Capíton, personagem mitológico rastejante com nome, sobrenome CPF e até patente. Embora a turma da peçonha não aceite, perdeu as divisas por razões anteriores à vida pública.
Diz a lenda que o enDeusado chegou a liderar a Casa de Mãe Joana, onde, na sua época, nem os extraterrestres queriam aterrissar, pois temiam ser confundidos com os maluquetes reunidos nos acampamentos formatados para aeroporto de Ets. Por isso, muitos dos seres interplanetários foram vistos, mas nenhum teve a coragem de descer. Preferiram ser confundidos com uma urna eletrônica sem fraudes a favor do sapo barbudo e tiveram medo de que as máquinas pudessem ser recheadas de votos favoráveis ao líder dos Tabajaras, o chamado mito do Almanaque Capivarol. Viram suas luzes inebriantes, mas, como eles não deram as caras, a patriotada confeccionou faixas de cartazes de última hora denominando-os de comunas do espaço.
De tão tão distante, o tal país quase virou uma nação de ficção. Foi salva pelas doses homeopáticas de Fosfosol na caixola dos menos desinteligentes. Lembro que, fora esporádicos encontros com lideranças lunáticas, Capíton nunca foi recebido por mandatários sérios e com os pés no chão. Tudo por causa dos arrotos diários de asneiras acerca das baboseiras que produzia. E não à toa era aplaudido internamente por isso. No exterior, em lugar das faixas de Welcome fulano, havia outdoors espalhados com frases do tipo “quem nasce para Tião Macalé jamais será Antônio Fagundes”. Assim começou o desprazer da maioria dos votantes normais com as piruetas políticas praticadas pelo senhor dos anéis.
Na verdade, a carruagem do príncipe da peçonha já começou fora dos trilhos. Continuou, a ponto de alguns de seus seguidores achar que ele sofria de priapismo mental. O que era dúvida virou certeza quando, auxiliado por ex-superiores que não queriam encrenca, pois temiam perder o terceiro ou quarto holerite, Capíton decidiu virar a mesa, antes mesmo do caldo entornar. Era pegar ou largar. Entre xingamentos chulos e gritos apopléticos, bateu na espora, rodou a baiana e estava consolidada a tese do golpe. Perdeu o mandato, o rebolado e deverá perder a liberdade porque fez pouco caso da astúcia dos supostos russos, os chamados cossacos tupiniquins. Sem o baralho na mão e com poucas chances de pôr a mão no baralho, sir Wel, Wel Manu, isto é, o Manuel da peidaria, perdeu sua única oportunidade de concorrer ao prêmio principal dos artistas desconhecidos da Gardênia Azul.
Sem lastro algum como líder ou como astro do circo da tirania, restou-lhe o Oscar de pior ator coadjuvante do golpe. É pouco, mas demasiado para quem nada fez para ser reconhecido como o rei da cocada amarela. As brancas e as pretas tinham dono bem antes de o Brasil ter virado Casa de Mãe Joana. Quanto à tomada do Coliseu nacional, besta são aqueles que ainda acreditam que os generais – não os do acúmulo de holerites – iriam embarcar na canoa furada do golpe. Que atire a primeira pedra quem acha que os militares graduados esqueceram que foi o Capíton quem formou complô contra o próprio Exército. Resumindo a ópera bufa, seu passado o condenou e seu presente dificilmente não o condenará ao absoluto esquecimento no futuro. Para onde vai, terá tempo de sobra para contar as estrelas de seus algozes fardados, pentear macaco na reluzente careca de quem o apenou e, quem sabe, manter conversas de bastidores com os extraterrestres desnaturados que o abandonaram à própria sorte.