Gerhard Schroeder, ex-premiê alemão, lançou um alerta aos líderes ocidentais. Disse, curto e groso, que a União Europeia, catapultada pela Otan impulsionada pelos Estados Unidos e outros e parceiros, não devem brincar de querer de atingir o território russo sob o risco de serem dizimados como uma fogueira de São João embebida em gasolina. Apesar de coerente, Schroeder não teve eco entre os atuais líderes do Ocidente. Ele não quer guerra; abomina a russobofia que se espalha cada vez mais. Chegou mesmo a recorrer à historia para justificar suas preocupações: lembrem-se de Napoleão Bonaparte, de Adolf Hitler e do mais famoso dos generais russos – o inverno.
Pragmático, Schroeder, do alto de todo o seu conhecimento geopolítico da Europa e Ásia (aí incluído o Dragão Chinês e os aiatolás iranianos) sugeriu que um ataque da Ucrânia ao território russo empregando as mais modernas armas da Otan, significaria fazer soar a última trombeta do Apocalipse. Vladimir Putin, presidente da Rússia, está ciente das ameaças. E tem ao alcance dos dedos mísseis devastadores capazes de transformar em cinzas capitais como Paris, Berlim, Londres e outras cidades-satélites que são atiçadas a jogar lenha na fogueira.
Schroeder advertiu que crise na Ucrânia, com a invasão da Rússia, jamais será vencida. Ele tem argumentos para isso. Afinal, esse político social-democrata foi o arquiteto do “milagre econômico” alemão dos anos 2000, facilitado pelo aumento da cooperação energética com a Rússia. Na opinião dele, qualquer um que sonhe em “derrotar” a Rússia militarmente precisa de uma aula de história.
A aula é tão fácil de aprender como a soma de 2+2 = 4. Para não recorrer aos primórdios dos tempos, o ex-premiê da Alemanha se ateve a fatos registrados ao longo dos dois últimos séculos. Citou dois desastrados desafetos que queriam tomar para si o vasto território onde sobem ao Céu, imponentes, os Montes Urais. Foram visionários cegos, da história moderna, que se apresentavam como conquistadores e desejosos de ampliar seus impérios. Cada um em seu tempo, tentaram subjugar a Rússia e acabaram falhando. Subestimaram a resistência do povo russo, as condições climáticas extremas e a vastidão do território, fatores que se mostraram cruciais em suas derrotas.
Napoleão Bonaparte, em 1812, lançou sua Grand Armée, que era considerada a força militar mais poderosa da época, contra a Rússia. No entanto, a campanha foi marcada pela destruição de Moscou pelos próprios moscovitas e pelo “General Inverno”, o rigoroso frio que dizimou as tropas francesas durante a retirada. Napoleão saiu de Moscou com apenas uma fração do exército que entrou. Sua derrota marcou o início de sua queda do poder. Nadou e morreu em pleno ostracismo na praia de uma ilha.
Adolf Hitler, mais de um século depois, em 1941, seguiu um caminho semelhante. A Operação Barbarossa, sua invasão da União Soviética, começou com rápidas vitórias, mas novamente, a extensão do território, a resistência feroz das forças soviéticas e o inverno implacável foram fatais. A Batalha de Stalingrado, que culminou em 1943, foi um ponto de virada crucial que destruiu as ambições de Hitler de conquistar o Leste. Hitler suicidou-se e a Alemanha transformou-se em um monte de escombros.
Esses homens foram “riscados do mapa geopolítico” pela mesma falha estratégica de subestimar o poder russo, enquanto a Rússia, por sua vez, continuou a se reerguer como potência. A capacidade de absorver invasões devastadoras e, ainda assim, emergir mais forte no cenário mundial faz parte de uma narrativa de resiliência e persistência russas.
Em um contraste dramático, enquanto os impérios de Napoleão e Hitler desmoronaram, a Rússia, mesmo diante de conflitos internos, crises econômicas e a pressão de potências estrangeiras, segue sendo uma peça central no xadrez geopolítico global. A história sugere que, enquanto impérios vão e vêm, a Rússia permanece. O conselho de Gerhard Schroeder deve ser reavaliado por seus compatriotas. Putin não deseja – e mostrou isso nas últimas entrevistas – uma III Guerra Mundial. Mas se for mexido com vara curta, o Urso vai gruir. E não será surpresa se toda a Europa Ocidental transformar-se em um grande Auschwitz.