Mistério da rua sem saída
Quadra famosa das gêmeas, amigos, gato, cão…
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emDuas meninas, gêmeas, sete anos, uma Ana Maria, outra Mariana. Ana Maria tinha grandes olhos de um castanho meio mel; Mariana também. Ana Maria com seus cabelos encaracolados, caídos um pouco abaixo dos ombros; Mariana também. Ana Maria adorava sorvete de flocos; Mariana, de morango.
As duas irmãs moravam em uma pequena rua, uma rua sem saída, num bairro bem distante, numa Região Administrativa bem grande, num país chamado Brasil. Havia outras crianças na rua da Ana Maria, que também era a rua da Mariana, mas que também era a rua de outras pessoas. Juliana também morava nessa rua, era amiguinha das gêmeas, tinha cabelos lisos, loiros, caídos bem abaixo dos ombros. Todos a chamavam de Jujuba.
Também havia a Gabriela, morena dos cabelos tão grandes que alcançavam o bumbum. Nossa, a Gabriela era tão mandona, gostava de chefiar tudo. Mandar era com ela mesma. Iago era um dos poucos meninos da rua, magro como um palito, negro, dois olhos de jabuticaba bem madura. A criançada se divertia com as brincadeiras que seus pais e até avós já haviam brincado. Queimada, que essa nova geração cismava em chamar de queimado, pique-esconde, bandeirinha, o mestre mandou. Muitas e muitas brincadeiras. Puxa, como se divertia essa meninada!
Não só havia crianças nessa rua, mas árvores frondosas, principalmente amendoeiras. Quando chovia, e a criançada não queria acabar a brincadeira, todos se protegiam embaixo das árvores. E quando o sol estava muito forte, a galerinha também ficava sob as copas tão protetoras das mesmas árvores.
Alguns gatos circulavam pela rua, uns tinham dono, outros eram da rua mesmo. Um desses errantes era um lindo gato branco, a cauda mais peluda do que o resto do corpo, um pouquinho gordo, mas nada que o impedisse de escalar muros e até mesmo as belas árvores. E mesmo sendo um bichano das ruas, tinha nome e até sobrenome, colocado pelo pessoal da vizinhança. Pois bem, o dito cujo se chamava Virgulino Ferreira da Silva. Mas por que cargas d’água iriam dar um nome desses a um gato?, você poderia perguntar. É mais simples do que parece: esse bichano recebeu esse nome como uma referência ao cangaceiro Lampião, que se chamava Virgulino Ferreira da Silva e só tinha um olho. Pois é, o gato Virgulino também só possuía um olho. Ninguém sabe na verdade como ele perdeu o outro ou, se sabe, já se esqueceu.
Quem sempre andava com o Virgulino era um gato de cor cinza azulado, olhos verdes e que sempre se metia em confusão. Já havia escapado da morte diversas vezes e, por esse motivo, ganhara o sugestivo nome de “Elvis não morreu”. Virgulino e Elvis eram amigos inseparáveis, sempre se metendo em encrencas juntos, sempre saindo delas juntos. Eram como unha e carne.
Não poderia deixar de existir nessa história uma gatinha, que por sinal se chamava Sonja ou, para os íntimos, Sonjinha. Uma bela bichana de cor cinza, tigrada, olhos verdes como os do Elvis, mas bem mais dóceis e confiáveis. Ao contrário de Virgulino e seu amigo inseparável, Sonja possuía dono, ou melhor, dona, ou melhor ainda, duas donas: Ana Maria e Mariana ou, se você preferir, Mariana e Ana Maria, as tais gêmeas de que falei logo acima. Sonja não era a única na casa das duas irmãs; dividia o caixote de madeira com seu filho único, o Dunguinha, um gatinho loiro e de olhos verdes. Ele ainda não havia completado três meses, mas já era o xodó da casa, da rua, enfim, de todos que o conheciam. Era uma coisa de Dunguinha para cá, Dunguinha para lá, todos queriam pegar o filhotinho no colo.
Não só de crianças, árvores e bichanos esta história é feita. Também havia os pais e mães da criançada. Ah, claro, também não podemos nos esquecer dos outros animais como, por exemplo, a Cuca, uma cachorrinha muito simpática, que morava na mesma casa da Sonja. Ela também pertencia às gêmeas Ana Maria e Mariana e, apesar do dito popular, se dava muito bem com os bichanos da casa e até mesmo com os da rua.
*Segunda-feira, 19, o Capítulo II com muitas peripécias