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Ser mãe

Qual é meu filho mais amado? É o que mais precisa de mim…

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Autor/Imagem:
Mércia Souza* - Foto Produção Irene Araújo

Como mãe, digo que amo a todos igualmente, é uma verdade, mais, qual deles neles necessita mais do meu amor incondicional?

Me casei ainda menina, digo que foi escolha, mas isso foi em uma época que nós éramos educadas para casar, e eu era praticamente uma menina, então não tenho certeza.

Logo engravidei, graças aos céus, imagina naquela época uma mulher sem filhos?

Inocente e sem conhecer a vida, sem a medicina e inserida no machismo perdi meu filho no quinto mês de gestação, arrancando de dentro de mim aos pedaços, depois de três dias morto, nem pude ver seu rosto, saber como era.

Os próximos meses seriam de luto pelo meu filho morto, por aquele que não conheci, mas não vivi meu luto, logo engravidei, e como a sociedade e a família esperava deveria ser um menino, mas dentro de mim eu sabia era uma menina, ainda tenho guardada, há mais de 40 anos, a primeira roupinha, um macacão branco, com pala e punho vermelho, além das pequenas florezinhas vermelhas, como eu amava aquela menina livre e esperta, mas a vida pobre não me permitia tanto, mesmo assim, eu ensinava o que podia e ela guardava tudo que eu tinha para dar.

Antes de um ano, nascia a segunda menina, como mulher eu sentia a falha de não dar um primogênito homem, como mãe amava, mas as dores continuavam, ela nasceu muito doente, o médico ao vê-la disse:

– Se conforme, você vai perdê-la.

Como mãe não aceitei, eu queria um milagre, não ia perder outro filho, essa, eu sabia o rosto, mas não ia perde-la.

Sua pele se soltava completamente em contato com a roupa, foram logos dias, eu a colocava completamente nua, sem fralda ou qualquer coisa dentro de um enrolador, não me importava lavar tantas peças de xixi e cocô, eu queria minha filha, e ela, se tornou livre, não usava nada que a prendesse, não usava roupas e sua pele se reconstruiu linda e hoje tem mais de 40 anos, lembra que em menos de um ano, duas meninas?

Novamente grávida, nove meses na lavoura de café, peneira em cima da barriga, a bolsa estourou e o líquido era sangue, mas finalmente meu menino nasceu, grande e forte, eu o tive, eu o esperei, amo demais minhas meninas, mas só quem é mulher sabe a necessidade de ter um menino, meu amor era igual, só que eu tinha medo das minhas meninas sofrerem, a ele eu achei que não teria isso, ele é homem.

Mas, meu filho carrega com ele todas as dores da família, carrega a carga de ser o homem da família, de uma longa história, meu filho vive em relacionamentos ruins, cura suas dores com drogas, ou apenas anestesia.

Tive mais três filhos, eu estava mais madura e a esses não vou falar por agora, mas a esse meu filho mais amado nesse momento eu sinto que ele precisa do meu amor, aos outros de alguma forma eu sei que eles tem seu problemas, assim é a vida, eu os ouço e ajudo, mas eles seguem, a esse eu, como mãe sei que ele de alguma forma carrega todas as dores da família, ele não as aguenta, ele se anestesia bebendo, fugindo.

Ele é solitário, ele é sozinho, ele é meu filho mais amado, não que eu tenha a ele mais amor, mais ele precisa muito mais do meu amor do que os outros, ele carrega a dor de uma história, embora pareça fraco, bêbado, inconsequente é meu filho mais forte, esse é meu filho que precisa do meu amor, esse é meu filho mais amado.

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