Elis e a fase ruim
Quando a coisa tá feia, nem o ‘tinhoso’ aparece
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emNão era religiosa, mas tinha lá suas superstições, ainda mais porque nascera na terra de todos os santos, apesar de, menina ainda, ter se mudado para Lauro de Freitas, bem ali grudadinho. Tanto é que nunca abandonara a cidade natal, pois gostava de caminhar até a praia do Flamengo, onde passava longas manhãs e um tiquinho das tardes com os amigos.
Elis, nome de cantora, sempre foi ciente das limitações para o canto, mas conseguiu coxas torneadas que nem Tina Turner. Imagine se soubesse que um dó é um dó, um ré é um ré e até que um lá é um lá. Que nada, pensava Elis debaixo daquele sol em frente à praia: “Com o que tenho, já dá pra saracotear o mundo!”
A moça, longe de estar equivocada, era pura felicidade, como provou os anos de glória que se seguiram. Isto é, até que chegou não aos 30, mas aos 33. Que ano foi aquele para Elis! Tudo parecia dar errado. De tão errado, tinha até medo de se queimar ao abrir a geladeira. Conselhos pululavam de toda parte.
— Amiga, vou te levar num babalorixá.
— Já conversou com o padre?
— Isso aí é mandinga!
— Tá parecendo bruxaria.
— Olho gordo na certa!
— Isso é inveja, amiga!
E foi justamente quando a azarada estava ouvindo tanto palpite, que chegou um pastor, que também quis dar pitaco onde não tinha sido chamado. Elis olhou aquele homem de terno preto naquele calor infernal e não teve dúvida.
— Ih, quando o Tinhoso não vem, manda o secretário.