Chego ao cardiologista perto das oito da manhã, a hora marcada.
– É só aguardar – diz a recepcionista, apontando o rumo da já lotada sala de espera. O nome é apropriado: a gente espera…
Sento próximo de uma simpática senhora, mais de oitenta anos, que puxa assunto:
-Você vai fazer exame, filho?
-Não, é só retorno.
Ela usa óculos escuros e o marido ao lado também. Sem que eu pergunte, vai explicando:
– Nós dois operamos da catarata semana passada.
– A senhora está muito bem – elogio para tentar interromper a conversa e conferir e-mails no celular.
Ela sente a indelicadeza, mas respeita minha péssima escolha de trocar uma boa conversa pelo acesso digital. Percebo a mancada e retomo o papo:
– A senhora mora aqui?
– Não, somos de outra cidade. Saímos às seis da manhã. Viemos com a van da prefeitura. E conta mais detalhes segurando um calhamaço de exames:
– Meu marido teve dois derrames e viemos fazer um ecocardiograma, marcado há quase um ano pelo SUS.
A dureza da história me faz depositar o celular no bolso – o mesmo onde guardo a carteira com o cartão do plano de saúde, que me permitiu agilizar os procedimentos do check-up.
Passo a dirigir a devida atenção à dona Olga, mulher forte, companheira e alegre com a vida, apesar das dificuldades.
– Ainda bem que Deus criou a Medicina – diz ela, resiliente.
Enquanto isso, pacientes se aglomeram no balcão agendando consultas e exames para não sei quando. Ouvem-se bocejos enquanto a TV mostra notícias da guerra. Uma garrafa de café está ali para acordar quem espera.
Dona Olga estava ali para me mostrar que a espera vale a pena quando a companhia não é pequena.
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