Laura passou a madrugada com dificuldade para dormir. Não tinha uma posição certa para ficar. E pensava em como ser mãe solo, morando na favela da Cidade Deus e com um salário muito pequeno como diarista. Com quem deixaria o bebê?
Amanheceu ensolarado e Laura, uma mulher de trinta anos, acordou com uma leve dor nas costas. Ela ignorou, achando que era apenas mais um desconforto da reta final da gravidez. Porém, à medida que os minutos passavam, a dor aumentava e se tornava mais intensa. O relógio na parede marcava 8h30 quando ela percebeu: o momento tão esperado estava finalmente chegando.
Com um rápido olhar no espelho, Laura decidiu que precisava ir ao hospital. A cada contração, ela sentia seu coração acelerar e a adrenalina tomar conta. Vestiu-se apressadamente e saiu de casa, respirando fundo para tentar controlar a dor que a dominava. Tinha que chegar no Hospital Lourenço Jorge e não tinha ninguém para ajudá-la.
Na rua, o sol brilhava intensamente, mas Laura só conseguia pensar em uma coisa: chegar ao hospital. Ela levantou a mão para tentar pegar uma carona. O trânsito estava fluindo, mas os carros pareciam ignorá-la. O tempo parecia se arrastar enquanto as contrações se tornavam mais frequentes e doloridas. Finalmente, um carro parou ao seu lado; era um homem gentil que a olhou com preocupação.
— Para onde você vai? — perguntou ele.
— Hospital Lourenço Jorge — Laura respondeu entre suspiros e respirações rápidas.
O homem rapidamente abriu a porta e Laura entrou no carro, lutando contra a dor crescente. Ele acelerou e tentou manter a conversa para distraí-la, mas as contrações estavam agora se tornando quase insuportáveis.
— Você está bem? — ele perguntou ao notar seu rosto pálido.
— Não… está chegando a hora … — Laura respondeu com dificuldade.
Ao chegarem à entrada do hospital, já era quase 9h00. O motorista estacionou rapidamente e ajudou Laura a sair do carro. Mas antes que pudesse dar um passo em direção à entrada, uma nova contração a pegou de surpresa. Era intensa e poderosa.
— Eu não vou conseguir… — ela murmurou, sentindo que não teria tempo para entrar no hospital.
O homem olhou em volta em busca de ajuda enquanto Laura se apoiava no carro. A dor era imensa e ela sentiu sua bolsa estourar. Com um último impulso de força e determinação, Laura se abaixou e começou a empurrar.
Em poucos minutos, gritos de dor se misturam aos sons da cidade movimentada ao redor dela. O homem ficou paralisado por um instante, mas logo tomou coragem e começou a ajudar como podia: ele envolveu os braços em torno dela para dar suporte.
E então aconteceu: o primeiro choro ecoou no ar. Laura olhou para baixo e viu seu bebê recém-nascido sendo acolhido por suas próprias mãos entre lágrimas de alívio e alegria. O homem sorriu sem saber o que dizer; ele estava testemunhando algo extraordinário. O tempo ali parecia parado.
Logo após o nascimento, paramédicos chegaram correndo. Eles ajudaram Laura a ser levada para dentro do hospital com seu bebê nos braços. A dor havia se dissipado, substituída pela alegria indescritível de ter trazido uma nova vida ao mundo.
No final daquela manhã agitada, enquanto os médicos cuidavam dela e do pequeno ser que acabara de conhecer, Laura percebeu que aquele momento fugaz – desde as dores até o grito do bebê – seria eternamente gravado em sua memória como o dia em que ela aprendeu que a vida pode acontecer nos momentos mais inesperados.