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Quando o barato sai caro e o condômino é quem paga o pato

Faz dez meses que começou a pintura no condomínio. Serviço mal feito, muitas reclamações. Faxineiros bons, regulares e excelentes largaram a função devido a problemas nesse fatídico percurso.

A situação criada obrigou pessoas idosas a suspenderem seus tratamentos com fisioterapeutas e afins porque esses tratamentos demandavam o uso de áreas comuns.

Nesses longos e abissais meses, houve uma quinzena de suplício especial.

A privacidade dos condôminos foi invadida, por meio da pintura das sacadas dos apartamentos usando ninjas. Ao invés de cabos de aço, os trabalhadores desciam do topo do prédio equilibrando-se em cordas comuns: dessas que usávamos para brincar na infância. Obviamente foram escolhidos pela capacidade de enfrentar o risco e não pela habilidade de pintar parede. Não usavam fita crepe para limitar contornos. Era um trabalho no atacado, já que seria avaliado por fotos tiradas à distância. Varejo nem pensar! Esses detalhes, segundo a síndica, foram considerados chiliques de condôminos.

A pintura dos estacionamentos foi uma forma de colocar os condôminos uns contra os outros. Houve disputa de vagas, na base do salve-se quem puder. Humilharam, até não mais poder, uma senhora idosa que ficou sem local para pôr seu carro e o deixou no local onde paga IPTU (sua propriedade privada localizada na área comum, mais conhecida como “vaga de garagem”).

Graças a Nossa Senhora do trevo de quatro folhas, os funcionários contratados não realizaram nenhum roubo. Pura obra do acaso os condôminos não terem perdido coisas materiais porque tudo foi planejado para que o caos fosse instalado para restringir as liberdades individuais, cultivando a disputa, a falta de empatia e o desrespeito.

Para baratear o custo com funcionários, a terceirização foi feita, e a rotatividade tornou- se enorme. Isso diminuiu a segurança no condomínio, pois tornou-se impossível identificar quem está desempenhando cada função, em determinado dia. Os condôminos relatam que, ao ocorrer alguma disfunção, é temeroso relatar para a síndica, já que ela reage colocando o morador contra o trabalhador e vice-versa. Funcionários com antecedentes que “não são lá aquela coisa”, ameaçam moradores, pois estão convencidos de que devem “discipliná-los”.

Entrevistei uma idosa com dificuldade de locomoção e ela disse:

– Sinto-me refém de “uma ocupação”, dá uma sensação horrível. Não adianta ler mensagem de auto ajuda e nem fazer orações. Pessoas robotizadas e que só pensam em cifras para si concretizaram essa invasão.

Após a análise de vídeos e fotos, a pergunta que não quer calar:

– Quem assinou esses contratos que causaram tantos riscos e prejuízos na qualidade de vida dos moradores?

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