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Quando o Carnaval passar, as milícias vão mandar mais

Bolsonaro disse que Putin é “uma pessoa que busca a paz”, mas enquanto escrevo a Ucrânia está sob a segunda onda de ataque de mísseis russos. Não que o presidente brasileiro tenha qualquer importância no conflito, como se orgulhavam, acreditando em memes, seus seguidores. Mas, apesar da fala de Mourão defendendo o uso da força contra a Rússia, nunca fizemos parte desse “Ocidente” (que se traduz melhor como Otan, a organização bélica do Atlântico Norte), e perdemos a possibilidade de ter qualquer influência internacional sob o governo de extrema direita em que ele ocupa a vice-presidência.

Nem Jair Bolsonaro estava acreditando no que dizia – afinal, sua afinidade com o ex-chefe da inteligência soviética, assim como com o premiê húngaro, Viktor Orbán, está exatamente na exaltação da violência, no ataque aos direitos humanos, no desrespeito à liberdade de imprensa e à democracia, como explicou a coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política (SPW), Sonia Corrêa, em entrevista à jornalista Mariama Correia.

Sem poderio bélico e político do norte global, Bolsonaro se concentra em disseminar ódio e armas internamente desde o dia 1 de seu governo. Já temos mais de 500 mil brasileiros enquadrados como Caçadores, Atiradores Esportivos e Colecionadores (CACs) que, se o PL 3723/2019 for aprovado, poderão circular livremente com armas carregadas.

O projeto, que deve ser votado depois do Carnaval, partiu da Casa Civil da Presidência por demanda de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e também incluía o fim da marcação de munições usadas pela polícia, o que foi alterado pelo relator – que agora quer o rastreamento de todas as munições. O objetivo é regularizar os decretos de Bolsonaro sobre a flexibilização do uso de armas, que estão com o STF, driblando a possibilidade de que eles sejam vetados ou alterados pela Corte. Uma aposta na violência que mais uma vez desrespeita a vontade da maioria da população (segundo pesquisa de julho de 2019, 65% da população é contra flexibilizar o acesso e o controle das armas de fogo) e ameaça gravemente a segurança pública.

“Nós estamos falando de centenas de milhares de pessoas podendo portar armas nas ruas ao mesmo tempo, isso é um perigo muito grande para a segurança pública. E quando a gente fala de CACs a gente sempre fala de armas mais potentes do que as armas comuns”, explicou Natália Pollachi, do Instituto Sou da Paz à repórter Laís Martins. Outra reportagem da Pública, essa de novembro passado, já havia revelado que caçadores, atiradores e colecionadores “perdem” três armas por dia no Brasil, após serem roubadas ou extraviadas, alimentando o mercado ilegal e a violência.

Também depois do Carnaval, que promete ser repleto de grandes festas privadas apesar da pandemia, o Congresso deve seguir votando o “combo da destruição”, como os ambientalistas e defensores de direitos humanos apelidaram o pacote de projetos de lei que ameaçam o país. Três deles já foram aprovados na Câmara e devem ser votados no Senado: o que praticamente extingue o licenciamento ambiental (PL 2159), outros que facilitam a grilagem de terras (PL 2633 e 510) e o chamado PL do Veneno (6299) que liberou geral os agrotóxicos. No pacote ainda estão o PL 490 (Marco Temporal) e o PL 191 que permite o garimpo em terra indígena. Todos com grande potencial de promover a morte de povos originários e comunidades tradicionais, o desmatamento e a contaminação dos rios. Em última análise ameaçam toda a humanidade.

O Brasil de Bolsonaro não precisa de uma guerra para destruir e se autodestruir. As milícias estão no poder com essa missão.

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