Quando o castigo vem das Trevas (… e o que foi, será)

“Então disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se apalpem. E Moisés estendeu a sua mão para o céu, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias. Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações.” (Êxodo 10:21-23).

Esse trecho do livro de Êxodo 10:21-23 descreve a nona praga que assolou o Egito, quando as trevas densas cobriram a terra por três dias. As pragas foram enviadas por Deus para convencer o faraó a libertar os israelitas da escravidão, juntamente com o julgamento contra os deuses egípcios, especialmente Rá, o deus do sol, cuja luz foi completamente anulada. A praga das trevas preparava o caminho para a décima e última praga, a morte dos primogênitos, que levaria finalmente à libertação dos israelitas da escravidão no Egito.

Esse evento simboliza não apenas o poder de Deus sobre a criação, como também demonstra a sua justiça e misericórdia, e serve como um lembrete da importância de obedecer à vontade de Deus e adorá-lo, reconhecendo-o como o único criador.

Os “três dias de escuridão” é uma crença atualmente circula no seio das tradições religiosas e espirituais, particularmente no contexto do catolicismo e de algumas profecias apocalípticas. Seria a volta do que já foi. A crença pós-moderna sugere que, antes do fim do mundo por vontade divina, haverá um período de três dias completos de escuridão total na Terra, durante o qual será impossível ver qualquer coisa como nos tempos bíblicos. Nem o sol, nem as estrelas, e será um tempo de grandes tribulações. A origem da predição catastrófica varia, mas está associada, principalmente, a interpretações de profecias religiosas e até mesmo a lendas populares.

Algumas versões afirmam que durante os três dias de escuridão, uma tempestade ou cataclismo irá cobrir a Terra, e as pessoas seriam aconselhadas a permanecer dentro de suas casas, protegendo-se, porque as forças do mal ou criaturas demoníacas estariam soltas. Em algumas versões, a crença seria a purificação para da humanidade antes do julgamento final.

O padre Júlio Maria de Lombaerde, sacerdote belga e grande defensor da Igreja, acreditava que os três dias de trevas previstos deve-se a uma punição aos que atuam contra os ensinamentos de Deus: “Por cúmulo das desgraças, o mundo será envolto em trevas de três dias contínuos, durante os quais nenhum meio de iluminação funcionará, a não ser velas bentas…Deus permitirá pois que, nestes dias angustiosos, os demônios saiam do abismo e venham cá à Terra, servir de instrumento justiceiro nas mão do Onipotente.” O padre Julio Maria não brinca em serviço. Ele trabalhou como missionário no Brasil e escreveu mais de 80 livros sobre a espiritualidade.

Já em 1950, padre Pio de Pietrelcina (1887-1967) escreveu uma carta à Comissão de Herolsbach, designada pelo Vaticano, sobre as revelações dos três dias de escuridão. Segundo o reverendo, a profecia seria revelada pelo Nosso Senhor com as orientações rígidas a seguir: “…Eu vos darei os seguintes sinais e instruções: a noite será muito fria; o vento rugirá; depois de um tempo, serão ouvidos trovões. Fechai todas as portas e janelas. Não olheis para fora. Acendei uma vela benta, que será suficiente para muitos dias. Rezai o rosário. Lede livros espirituais. Fazei atos de comunhão espiritual e também atos de amor, que são tão agradáveis para Nós. Ajoelhai-vos perante um crucifixo, arrependei-vos de vossos pecados…”. E ainda: “Provede-se com comida suficiente, pois as forças da natureza serão impelidas e uma chuva de fogo fará as pessoas tremerem de temor. Tende coragem! Eu estou no meio de vós”.

Assim como Julio Maria, o Padre Pio de Pietrelcina também afirmou que Deus está bravo com a conduta dos homens da Terra, lançando a Praga dos Três Dias como castigo. “Os pecados dos homens multiplicaram-se incomensuravelmente: falta de reverência na Igreja, orgulho pecaminoso cometido em atividades religiosas hipócritas, carência de verdadeiro amor fraternal, indecência na indumentária, especialmente nas épocas estivais. O mundo está repleto de iniquidade.”

É importante ressaltar que o Retorno das Trevas não está explicitamente presente nas escrituras religiosas, como a Bíblia, embora algumas pessoas a associem a passagens simbólicas sobre escuridão e julgamento divino. A crença dos três dias de escuridão, portanto, é mais uma tradição popular do que uma doutrina oficial em muitas religiões. Assim é!

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Thaís Costa, jornalista e membro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas – @colegiodosmagosesacerdotisas