Notibras

Quando o computador enterra a velha Remington

José Escarlate

A modernidade é o maior barato na preparação deste livro contando histórias de vida. Hoje tenho a ajuda da tecnologia para rever fatos passados, com exatidão. Jamais pensei escrever um livro, muito menos tendo como parceiro inseparável o computador. Confidente discreto e amigo.

Sou um escriba à moda antiga, dos tempos da máquina de escrever, do tempo em que redação de jornal tinha cheiro. Do tempo em que qualquer alteração no texto representava lauda jogada no lixo. Tudo deveria ser reescrito. As máquinas de escrever mecânicas cederam sua primazia às elétricas e, depois, aos computadores.

Houve a natural resistência dos velhos jornalistas. Inclusive dos intelectuais, que escreviam longas matérias à mão. Além do mais, o uso de computadores na redação gerou a demissão dos revisores, trabalho que passou a ser feito pela informática, com programas de autocorreção. Quem não se adaptou à informática perdeu o assento. Velhos jornalistas deixaram a vaga para jovens recém formados pelas faculdades de comunicação, logicamente que com salários mais baixos. Com isso, o computador passou a ser visto pelos antigos como um inimigo.

A verdade é que todo o processo de produção do jornal de hoje é apoiado no uso do computador. Da pauta ao fechamento da edição. O jornalismo romântico de priscas eras, o bom e velho jornalismo, puro e simples, cedeu terreno à modernidade. O título medido, de acordo com o espaço para o número de colunas e letras acabou, aliviando a carga dos editores e do copy desk. Foi trocado pela tituleira

No jornalismo moderno, o computador dá uma incrível intimidade com o texto. Permite emendas, acréscimos, supressões, mudanças de frases e parágrafos com uma velocidade que surpreende. Pior de tudo é que ele conversa conosco, o que a máquina de escrever não fazia. Vez por outra aparece na tela “operação incorreta”, “tente de novo”, ou então “operação realizada com êxito”. Só falta dizer “parabéns” ou “eu te amo”.

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