O artista e escritor italiano Giorgio Vasari conta que Michelangelo ficou tão impressionado com a perfeição de seu Moisés que ordenou à estátua, Parla! (Fala!). A pergunta que não foi respondida: Moisés obedeceu?
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Alfredo, jornalista aposentado, 71 anos, morava sozinho. Dividia seu tempo entre ouvir músicas no Youtube e Spotfy, ver séries em diversos streamings e um pouco de TV. Um de seus maiores prazeres era assistir a jogos do Mengão, não perdia um. Chegou a comprar uma pequena imagem de São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis e protetor do time. Não que o Flamengo, com aquele timaço, precisasse de tanta proteção celestial assim. Mas uma ajudinha extra nunca é demais…
Durante o jogo, Alfredo falava o tempo todo com a imagem. Não rezava, conversava. Pedia que o santo neutralizasse o ataque do time adversário, reforçasse a defesa, impedisse gols. Certa ocasião, houve um escanteio contra o Flamengo e um atacante cabeceou para o fundo da rede. Alfredo explodiu:
– Ah, São Judas, pedi pro senhor arrumar a defesa!
– Cara, é o único ponto fraco do Flamengo. Fazer o quê? – respondeu a imagem. E continuou. – Posso sentar aí no sofá? Estou de saco cheio de ficar aqui em pé…
Estupefato, Alfredo o viu materializar-se ao seu lado e lhe estender a mão.
– Muito prazer, Judas. Tem uma cervejinha?
Não tinha, Alfredo havia parado de beber fazia tempo. O santo deu de ombros, resignado, e sentou-se. Os dois começaram a conversar. O anfitrião bem que tentou, mas são Judas recusou-se a dar informações sobre o paraíso, a vida eterna, seu irmão Jesus; mas sobre o outro Jesus, o Jorge, e sobre o Flamengo, mostrou ser uma enciclopédia ambulante. Falou sobre os grandes esquadrões do passado (afinal, protegera todos eles), os seis tricampeonatos cariocas, com destaque para o de 53-54-55 – foi nessa época que Alfredo, com menos de 6 anos, flamengou; louvaram o Flamengo de Zico e o de Jorge Jesus, inesquecíveis, pareciam jogar por música. E por aí foram. Esqueceram até de curtir o jogo, que o Mengão venceu por 2 x 1.
Desde esse episódio, ele passou a ser um perfeito anfitrião para São Judas (ou Judas, sem o são, como prefere ser chamado). Quando ele senta a seu lado para curtir mais uma vitória do Flamengo, Alfredo tem sempre uma cervejinha gelada e uns amendoins para acompanhar. Amigos acima de tudo e o Flamengo acima de todos!