Berço Negreiro
Quando o mar bravio range entre trapos humanos maltratados
Publicado
emOh, maldito navio que velejou revoltoso,
Carregando homens negros em tormento,
Singrando águas cruéis no oceano poderoso,
Ecoando dores e angústias no horizonte cinzento.
Do continente africano, lindo berço ancestral,
Arrancadas foram vidas, levadas à escravidão,
Condenados a um destino tão desleal.
Oh, navio infame, símbolo da opressão.
Marcados corpos negros pelo cruel açoite,
Estirados no convés, com a alma em farrapos,
Gritos calados em meio às brumas da noite,
Enquanto o mar bravio ruge entre os trapos.
Abafa-se o choro e o lamento pelo vento.
Nas trevas noturnas, a esperança se esvai.
O sonho de liberdade foi devastado pelo sofrimento.
Oh, navio triste, que a humanidade aceita sem um ai.
Meninas-mulheres, homens-crianças,
Marcados pela dor de um destino tão cruel,
Almas banidas, sem esperanças,
Sina triste de um passado com gosto de fel.
Nas águas velejadas, a história envergonhada,
Clamores dos cativos se perderam no horizonte.
Do peito brada a revolta da esperança renegada;
A chibata infame calou qualquer sonho em desponte.
Em cada suspiro há desespero, uma lágrima se esvai;
No balanço das ondas, a tristeza se espalha ao vento.
Navio maldito, como um animal devora e trai.
Oh! Castro Alves retrataste a vilania com talento.