“Você faz gostoso?”
Leo levou um susto, como se quase tivesse sido atingido por um pontapé nas partes baixas. Releu a mensagem – era só a pergunta – e pensou: “Mais direto que isso, impossível! Nem a campanha das Diretas Já, de que participei na minha juventude, foi tão direta. Se eu contar, ninguém vai acreditar.” Mas depois admitiu que a culpa era sua, ninguém o obrigava a brincar nas redes sociais…
Dois dias antes, ele vira em uma delas a foto de um vestido vermelho ultra decotado envolvendo seios volumosos. O rosto não aparecia. A legenda era “Tudo novo!”. De bate pronto, ele teclou: “Não tão novo, por favor. Moça, diga que você tem mais de 18 anos de praia!”. Era o mínimo de proteção contra menores super púberes, chaves de cadeia que assediavam todos os aprendizes de tarados virtuais (categoria à qual ele pertencia, sem um pingo de culpa). Depois, esqueceu o assunto.
No dia seguinte, recebeu no Private uma mensagem com a foto do vestido, seu comentário e uma observação: “Tenho 55 anos. E detesto praia”. Ele respondeu que tinha 62 anos, que ela parecia em ótima forma, e ficou nisso. Menos de 24 horas depois, chegou a bomba mais que direta, do “Você faz gostoso?”.
Depois de respirar fundo, Leo decidiu entrar na brincadeira, porém mantendo um certo nível. Admitiu que já tinha transado melhor, mas ainda dava pro gasto.
Outra varada. “Sem Viagra?”. Não, reconheceu. As azulzinhas ajudavam…
Outro chute na marca do pênalti. “Comigo não precisava de Viagra”.
“Ela tá ganhando de uns 7 x 1”, pensou consigo mesmo. E decidiu endurecer o jogo.
– E você, faz gostoso? Faz tudo?
– Só quando gosto do parceiro. E se vejo que ele sabe tratar uma mulher.
– Querida, não é questão de ver pra crer. É de fazer o negocinho pra ver.
A taradinha virtual riu (não um rsrs discreto, e sim um kkkk escrachado), e Leo, sentindo firmeza, foi em frente. Falou que gostava de mulheres de qualquer idade, desde que tivessem mais de 18 anos de praia, isto é, que fossem maiores.
– Ah, era isso que você quis dizer com aquela brincadeirinha… – interrompeu a moça.
O chat prosseguiu, e ela ganhou de goleada. Seu último tento foi enviar o vídeo de uma trepada, com a frase “Pra você não me esquecer”.
No dia seguinte, quando ia para casa, Leo pegou o elevador com uma vizinha, Dona Matilde, uma viúva de uns 70 anos. De repente, ela disse:
– Seu Leonardo, posso perguntar uma coisa?
– Claro – respondeu ele, solícito.
– Tenho mais de 18 anos de praia. Será que eu sirvo?
Naquela noite, nos braços de Matilde (o dona ficou largado no chão do elevador), Leo aprendeu duas coisas.
A primeira, que as redes sociais estão cheias de perfis falsos.
A segunda, que mulheres que gostam do fuzuê não têm idade. Que os deuses as conservem!